quinta-feira, 28 de março de 2024

Saudades de Jesus - Joanna de Ângelis






Saudades de Jesus

 Joanna de Ângelis


           
No tumulto que assola em toda parte no planeta terrestre, desequilibrando o comportamento humano, parece não haver espaço para a harmonia, tampouco segurança para a vivência espiritual que dignifica e tranquiliza o Espírito.



As distrações confraternizam com as tragédias e os sorrisos misturam-se às lágrimas, numa paisagem de ilusão e dor, que empurram suas vítimas para o desencanto, a saturação, empobrecimento moral, o vazio existencial.



Multiplicam-se, assustadoramente, os agentes da hipnose do consumismo, em fuga espetacular da realidade, transformando-se em mecanismos impotentes para preencher as lacunas da alma sedenta de paz.



Ignorando-se como adquirir a harmonia íntima, a avalanche dos prazeres apresenta-se como a melhor maneira de desfrutar-se das horas que se vive, não conseguindo, porém, proporcionar bem-estar, por causa da sua fugacidade.



O número incontável de pessoas que não possui, porque desconhece, o sentido profundo da reencarnação, encanta-se com essas fantasias que logo são substituídas por outras, ansiosas e instáveis, que desaparecem na voragem dos conflitos em que sucumbem, sem consciência do que lhes acontece.



Os espetáculos de gozo imediato e fugidio apresentam-se, sempre, multiplicados, atraindo aficionados, que se tornam vítimas do seu fascínio, logo transformado em solidão e mentira.



Os deuses da economia alertam e aprisionam os apaixonados pelo ter e pelo poder nos seus cofres e máquinas de ações e de títulos, entusiasmando-os a ponto de se escravizarem aos jogos das bolsas e negócios variáveis que propõem, segundo eles, a felicidade.



Firmam o conceito de que aqueles que são aquinhoados com a fortuna desfrutam da plenitude porque podem adquirir tudo quanto emociona.



Paraísos de indescritível beleza são-lhes oferecidos para os períodos de férias ou as permanentes férias com a ausência dos sentimentos elevados.



Olvidam que dinheiro nenhum consegue apagar a culpa no imo, oferecer afeto real e de profundidade.



Somente quando a razão abraça a emoção, em perfeita identidade de propósitos, é que o ser pode experimentar plenitude que não tem as aparências das satisfações fisiológicas e das apresentações exteriores em que o orgulho e a presunção destacam-se na sociedade.



O homem e a mulher necessitam de ideais engrandecedores para nutrir-se e crescer interiormente.



As aspirações meramente materiais, as que promovem o exterior, assim que conseguidas perdem o sentido e os abandonam sem consideração.
É nesse sentido que o Evangelho faz falta à sociedade moderna.


* * *








Quanta saudade de Jesus!


A Sua mensagem de ternura e amor, repassada de misericórdia, possui o condão mágico de alterar o significado de todas as existências.



A ingenuidade inserta na sabedoria dos Seus ensinamentos é um poema de atualidade em todos os tempos, que comove, propicia equilíbrio e restaura a compreensão em torno dos deveres que a todos cabe desempenhar.


Porque elegeu os infelizes, ergueu-os do caos em que se encontravam ao planalto da dignidade libertadora, fez-se o mais desafiador exemplo de bondade que o mundo conheceu, e tornou-se modelo para incontáveis discípulos fascinados pelo Seu exemplo, que tentaram repetir a incomparável façanha da compaixão e da caridade.


Revolucionou as convicções, nas quais predominavam o ódio e a vingança, e estabeleceu que o amor e o perdão constituem os elementos, únicos, aliás, p ara a completude individual e coletiva.


Utilizou-se de palavras simples para explicar os dramas complexos, assim como de imagens do cotidiano para elucidar os enigmas dos comportamentos em desvalor, que predominavam, e ninguém jamais falou conforme Ele o fez, emoldurando as palavras com as ações candentes da compreensão do sofrimento humano.


Ninguém valorizou a pobreza e os testemunhos de dor como instrumentos de elevação moral, como Ele o fez.


Nestes dias de complexas angústias, não são diferentes as aflições que necessitam da presença e do socorro de Jesus.


Pode-se afirmar que são mais afligentes, em razão das circunstâncias culturais e comportamentos alienantes, dos desafios e dos impositivos enfrentados, dos interesses em jogo, sob o domínio do ego.


Todos esses fatores, porém, têm as suas raízes no cerne do Espírito, resultado do seu atraso moral dos atos reprocháveis, do descaso pelos valores dignificantes que devem servir de roteiro seguro para a evolução.


Ante a ausência dos afetos que lenificam as aflições morais, dos desastres resultantes dos vícios e prisões emocionais, a figura inolvidável do Rabi faz muita falta aos deambulantes carnais.


Incontáveis mulheres equivocadas e criaturas endemoniadas encontram-se necessitadas do Seu amparo, cuja grandeza enfrentou a hipocrisia vigente em imorredouros testemunhos de afetividade.


Ricos, como Zaqueu, e miseráveis como todos aqueles que Lhe buscaram o auxílio enxameiam e movimentam-se sem norte ante a indiferença dos poderosos, não menos atormentados.


Quanta saudade de Jesus!



* * *








Refugia-te no Amigo que não teve amigos e deixa que Ele te conduza.


Nada te perturbe ou confunda a tua mente, face à corrosão do materialismo dominador.


Medita na Sua vida de dedicação a todos os infelizes, que somos quase todos nós, e propaga-a porquanto, jamais, como na atualidade, Jesus necessitou tanto ser conhecido, para que a existência humana passe a ter sentido na sua imortalidade.




FRANCO, Divaldo Pereira pelo Espírito Joanna de Ângelis. Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica de 25.5.2015, no Centro Espírita Caminho da Redenção,  em Salvador, Bahia.



quarta-feira, 27 de março de 2024

Culto Doméstico - Casimiro Cunha

 


Culto Doméstico 

Casimiro Cunha

 

Quando o culto do Evangelho


Brilha no centro do lar,


A luta de cada dia


Começa a santificar.


*


Onde a língua tresloucada


Dilacera e calunia,


Brotam flores luminosas


De sacrossanta alegria.


*


No lugar em que a mentira


Faz guerra de incompreensão,


A verdade estabelece


O império de amor cristão.


*


Onde a ira ruge e morde,


Qual rude e invisível fera,


Surge o silêncio amoroso


Que entende, respeita e espera.


*


A mente dos aprendizes


Bebe luz, em pleno ar.


Todos disputam contentes


A glória de auxiliar.


*  

A bênção do culto aberto,


Na divina diretriz,


Conversa Jesus com todos


E a casa vive feliz.


*


Quem traz a igreja consigo,


Combatendo a treva e o mal,


Encontra a porta sublime


Do Reino Celestial.

 *

XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Casimiro Cunha. Gotas de luz. Rio de Janeiro: FEB, ed.9 , 1.994. Cap. 10,p.18.

 

 

terça-feira, 26 de março de 2024

A Aranha - Casimiro Cunha

 

 


A Aranha 

Casimiro Cunha

 

Geralmente, em toda parte, no ângulo mais sombrio dos recantos desprezados, vem a aranha e tece o fio.


Escura, silenciosa, atendendo ao próprio instinto, seja dia, seja noite, vai fazendo o labirinto.


Por manter o enorme enredo, insiste e nunca esmorece, condenar-se por si mesma é seu único interesse.


Desdobrando movimentos nos impulsos insensatos, pratica perseguições, multiplica assassinatos.


Insetos despreocupados, na ilusão cariciosa, transformam-se em prisioneiros da pequena criminosa.


Satisfeita, a aranha escura.


Prossegue na horrenda lida, nos venenos que segrega traz a morte e suga a vida.


Mas um dia, o espanador, na luta material, vem e arranca essa infeliz das teias de horror do mal.


A aranha, porém, não cede, com teimosia e com arte, foge ao bem que se lhe fez, e vai tecer noutra parte.


Quem medita na conduta dessa aranha renitente, encontra a cópia fiel da vida de muita gente.


A muitos presos do engano, Deus envia a dor e as provas; Mas, depois de liberdade, Vão prender-se em redes novas.

 

XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Casimiro Cunha.Cartilha da naturezaSão Paulo/SP:Butterflay Ltda,2002, ed.1. Cap 2, p.3.