domingo, 30 de novembro de 2014

O pote rachado - Conto popular hindú




O pote rachado




Um carregador de água na Índia levava dois potes grandes, ambos pendurados em cada ponta de uma vara a qual ele carregava atravessada em seu pescoço.


Um dos potes tinha uma rachadura, enquanto o outro era perfeito e sempre chegava cheio de água no fim da longa jornada entre o poço e a casa do chefe. 


O pote rachado chegava apenas pela metade.


Foi assim por dois anos, diariamente, o carregador entregando um pote e meio de água na casa de seu chefe.


Claro, o pote perfeito estava orgulhoso de suas realizações. 


Porém, o pote rachado estava envergonhado de sua imperfeição, e sentindo-se miserável por ser capaz de realizar apenas a metade do que havia sido designado a fazer.


Após perceber que por dois anos havia sido uma falha amarga, o pote falou para o homem um dia, à beira do poço:


- Estou envergonhado, quero pedir-lhe desculpas.


- Por quê?, perguntou o homem.


- De que você está envergonhado?


- Nesses dois anos eu fui capaz de entregar apenas metade da minha carga, porque essa rachadura no meu lado faz com que a água vaze por todo o caminho da casa de seu senhor. 


Por causa do meu defeito, você tem que fazer todo esse trabalho, e não ganha o salário completo dos seus esforços, disse o pote.


O homem ficou triste pela situação do velho pote, e com compaixão falou:


- Quando retornarmos para a casa do meu senhor, quero que percebas as flores ao longo do caminho.


De fato, à medida que eles subiam a montanha, o velho pote rachado notou flores selvagens ao lado do caminho, e isto lhe deu ânimo.


Mas ao fim da estrada, o pote ainda se sentia mal porque tinha vazado a metade, e de novo pediu desculpas ao homem por sua falha. Disse o homem ao pote:


- Você notou que pelo caminho só havia flores no seu lado do caminho?


Notou ainda que a cada dia, enquanto voltávamos do poço, você as regava?


Por dois anos eu pude colher flores para ornamentar a mesa do meu senhor.


Sem você ser do jeito que você é, ele não poderia ter essa beleza para dar graça à sua casa.




Conto popular hindú

sábado, 29 de novembro de 2014

André Luiz Concede Espetacular Entrevista em 1964 - Francisco Cândido Xavier





André Luiz Concede Espetacular Entrevista em 1964

Francisco Cândido Xavier



Nesta entrevista, concedida ao Dr. Lauro Michielin, diretor do Anuário Espírita para a edição de 1964, n.º 1, André Luiz (espírito) respondeu às perguntas formuladas de números ímpares através do médium Waldo Vieira e as de números pares através do médium Francisco Cândido Xavier. 


Os temas são os mais diversos — sexualidade, homossexualidade, reencarnação, vida atual, etc..

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1.Qual a quantidade aproximada de habitantes espirituais – em idade racional – que se desenvolvem, presentemente, nas circunvizinhanças da Terra?


“Será lícito calcular a população de criaturas desencarnadas em idade racional, nos círculos de trabalho, em torno da Terra, para mais de vinte bilhões, observando-se que alta percentagem ainda se encontra nos estágios primários da razão e sendo esse número passível de alterações constantes pelas correntes migratórias de espíritos em trânsito nas regiões do planeta.”

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2. A quantidade de espíritos que vivem nas diversas esferas do nosso planeta tende, atualmente, a aumentar ou a diminuir?


“Qual acontece na crosta planetária, as esferas de trabalho e evolução que rodeiam a Terra estão muito longe de quaisquer perspectivas de saturação, em matéria de povoamento.”

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3. Considerando-se que as criaturas dos reinos vegetal e animal, deste e de outros planos, absorvem elementos de economia planetária, pergunta-se: 

O nosso planeta dispõe de recursos para a manutenção e sustentação de uma comunidade de número ilimitado de indivíduos ou a despensa celeste do nosso domicílio cósmico se destina a uma sociedade de proporções limitadas, ainda que de dimensões desconhecidas?


“Certo, nos limites do orbe terreno não é justo conceituar os problemas da vida física fora de peso e medida, entretanto é preciso considerar que as ciências aplicadas à técnica, à indústria e à produção, nos vários domínios da natureza, assegurarão conforto e sustento a bilhões de espíritos encarnados na Terra, com os recursos existentes no planeta, por muitos e muitos séculos ainda, desde que o homem se disponha a trabalhar.”

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4. Espíritos originários da Terra, têm emigrado, nos últimos séculos, para outros orbes?


“Seja de modo coletivo ou individual, em todos os tempos, espíritos superiores têm saído da Terra no rumo de esferas enobrecidas, compatíveis com a elevação que alcançaram. Quanto a companheiros de evolução retardada, principalmente os que se fizeram necessitados de corretivo doloroso por delitos conscientemente praticados, em muitos casos, sofrem temporária segregação em planos regenerativos.”

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5. Espíritos originários de outras plagas costumam estagiar na Terra em encarnações de exercício evolutivo?


“Isso acontece com frequência, de vez que muitos espíritos superiores reencarnam no planeta terrestre a fim de colaborarem na educação da humanidade, e criaturas inferiores costumam aí sofrer curtos ou longos períodos de exílio das elevadas comunidades a que pertencem, pela cultura e pelo sentimento, porquanto a queda moral de alguém tanto se verifica na Terra quanto em outros domicílios do Universo.”

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6. Considerando-se a enorme distância geométrica existente entre dois ou mais orbes de um sistema solar ou entre dois ou mais sistemas solares, pergunta-se:


a – os espíritos, em seu desenvolvimento evolutivo, ligam-se, necessariamente, a determinados orbes? b – na imensidão dos espaços que separam dois ou mais corpos celestes vivem, também, inteligências individuais?


“a) Em seu desenvolvimento, sim, qual acontece com a pessoa que em determinada fase de experiência física se vincula, transitoriamente, a certa raça ou família. 

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b) Isso é perfeitamente compreensível; basta lembrar as milhares de criaturas que atendem aos interesses de um país ou de outro nas extensões do oceano.”

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7. Quais os processos de locomoção utilizados nas migrações interplanetárias, considerando-se a possibilidade de migrações de entidades de categoria até mesmo criminosa, como parece ser o caso dos imigrantes do sistema planetário de Capela?


“Esses processos de locomoção, no plano espiritual, são numerosos. A técnica não se relaciona com a moral. Os maiores criminosos do mundo podem viajar num jato, sem que isso ofenda os preceitos científicos.”

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8. Onde começa o Umbral?


“A rigor, o Umbral, expressando região inferior da espiritualidade, pelos vínculos que possui com a ignorância e com a delinquência, começa em nós mesmos.”

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9. Onde se situa “Nosso Lar”?


“Não possuímos termos terrestres para falar em torno da geografia no plano espiritual, mas podemos informar que as primeiras fundações da cidade “Nosso Lar” por espíritos pioneiros da evolução brasileira se verificaram no espaço do território conhecido como Estado da Guanabara.”


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Sexo



10. Por que a disciplina sexual é recomendada pelo plano espiritual cristão?


“Claramente que a disciplina sexual é recomendável em qualquer plano da vida para que a degradação não arruíne os valores do espírito.”

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11. Há alguma relação entre sexo e mediunidade?


“Tanto quanto a que existe entre mediunidade e alimentação ou mediunidade e trabalho, relações essas nas quais se pede equilíbrio.”

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12. As funções reprodutoras do sexo se destinam, somente, da vida na Terra?


“Em muitos outros orbes, compreendendo-se, porém, que mundos existem nos quais as funções reprodutoras não são compreensíveis, por enquanto, na terminologia terrestre.”

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13. Espíritos sensuais mantêm atividades de natureza sexual após a desencarnação?


“Aos milhões, reclamando educação dos recursos do sentimento e das manifestações afetivas, como acontece nos caminhos da humanidade.”

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14. Os perispíritos das entidades espirituais que se localizam nas vizinhanças da Terra conservam o órgão do aparelho sexual humano?


“Sim, e por que não? 

O órgão sexual é tão digno quanto os olhos e como não se deve atribuir aos olhos os horrores da guerra o órgão sexual não pode ser responsável pelo vício.”


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15. Os espíritos conservam, para sempre, as condições de masculino e feminino?


"Respondamos com os orientadores espirituais de Allan Kardec que, na questão número 201, de 'O Livro dos Espíritos' afirmaram, com segurança, que o espírito tanto reencarna no corpo de formação masculina quanto no corpo de formação feminina.”

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Homossexualidade


16. Como explicar os homossexuais?


“Devemos considerar que o espírito reencarna, em regime de inversão sexual, como pode renascer em condições transitórias de mutilação ou cegueira. 


Isso não quer dizer que homossexuais ou intersexos estejam nessa posição, endereçados ao escândalo e à viciação, como aleijados e cegos não se encontram na inibição ou na sombra para ser delinquentes. 


Compete-nos entender que cada personalidade humana permanece em determinada experiência merecendo o respeito geral no trabalho ou na provação em que estagia, importando anotar, ainda, que o conceito de normalidade e anormalidade são relativos. 


Lembremo-nos de que se a cegueira fosse a condição da maioria dos espíritos reencarnados na Terra, o homem que pudesse enxergar seria positivamente considerado minoria e exceção.”

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17. Se vivemos tantas vezes participando da formação de casais frequentemente diversos, como explicar o ciúme?


"O ciúme é característico de nossa própria animalidade primitiva, sombra que a educação dissipará.”

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18. O espírito desencarnado também está sujeito a crises prolongadas de ciúme? 


“Como não? 


A desencarnação é um acidente no trabalho evolutivo, sem constituir por si qualquer solução aos problemas da alma."

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19. Como explicar a paixão que, tantas vezes, cega o indivíduo? (A paixão é, somente, uma doença humana?)


“Ainda aqui animalidade em nós é a explicação.”

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20. O adultério é, sempre, causa de conflitos quando da volta dos cúmplices ao plano espiritual?


“Sim.”


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Reencarnação


21. A reencarnação é lei imperativa em todos os orbes do Universo?


“Mais razoável dizer que a reencarnação é princípio universal, compreendendo-se que existem esferas sublimes nas quais a reencarnação, como recurso educativo, já atingiu características inabordáveis ao conhecimento humano atual.”


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22. Se a Medicina da Terra aumentar – num futuro não muito distante – a média da vida humana na crosta, do ponto de vista educacional, uma única existência, de 500 anos, por exemplo, bastaria para libertar o espírito das necessidades da escola terrena?


"Cabe-nos aguardar o apoio mais amplo da Medicina à saúde humana, com vista à longevidade, entretanto, em matéria de libertação espiritual o problema se relaciona com a vontade acima do tempo. 


Quando a pessoa se decide ao burilamento próprio, com ânimo e decisão, a existência física de cinquenta anos vale muito mais que o tempo correspondente a cinco séculos, sem orientação no aprimoramento moral de si mesma.”


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23. É de esperar-se que nos próximos milênios, quando a Terra se tornar um centro de solidariedade e de cultura, seja dispensado o processo de reencarnação como elemento indispensável de experiências e estudos?


“Digamos, com mais propriedade, que o espírito, alcançando a sublimação, não mais se encontra sujeito ao processo de reencarnação, por medida educativa, conquanto prossiga livre para reencarnar, como, onde e quando deseje, em auxílio voluntário aos semelhantes.”


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24. A duração média de vida dos encarnados racionais de outros orbes corresponde à terrena?


“Não. 

Essas etapas de tempo variam de mundo a mundo.”


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25. Todas as reencarnações, mesmo as dos indivíduos vinculados a condições inferiores, são objeto de um planejamento detalhado por parte dos administradores espirituais?


“Há renascimentos quase que automáticos, principalmente se a criatura ainda permanece fronteiriça à animalidade, entendendo-se que quanto mais importante o encargo do espírito a corporificar-se, junto da humanidade, mais dilatado e complexo o planejamento da reencarnação.”

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26. As organizações espirituais que pautam as suas atividades dentro de programas alheios aos princípios cristãos também procedem a execuções de programas para a reencarnação de tarefeiros determinados em suas organizações?

“Sim.”

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27. Reencarnações de espíritos de ordem superior, presididas por espíritos elevados, em meio inferior, estão sujeitos a represálias da parte de organizações espirituais interessadas na ignorância humana?


“Natural que assim seja. Recordemos o próprio Jesus.”

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28. Se um espírito encarnado com propósitos cristãos pode, pela má conduta, transformar-se num instrumento das trevas, é de se perguntar se um espírito encarnado sob os vínculos de organizações ainda não cristianizadas no Espaço, pode, também, transformar-se num instrumento ostensivo do programa do bem?


“Perfeitamente. 


Assim ocorre porque o íntimo de cada um prevalece sobre o rótulo que caracterize a pessoa no ambiente humano."


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Atualidades


29. Sabemos que outras civilizações terrenas se desfizeram em épocas remotas. Diante do perigo atual de uma conflagração atômica, é de se perguntar: estamos às portas da nova Jerusalém ou no começo de um novo fim?


“Na condição de espíritas-cristãos encarnados e desencarnados, pensemos no futuro da humanidade em termos de evolução, otimismo, confiança, progresso. 


De todas as calamidades, a civilização sempre surgiu em novos surtos de força para o burilamento geral, ao influxo da Providência Divina, ainda mesmo quando pareça o contrário.”

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30. Habitantes de outros orbes conhecem a humanidade terrena, sua história, costumes, etc.?


“Sim.”

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31. Diante dos progressos alcançados pela ciência, conseguirá o homem aportar a outros corpos de nosso sistema solar?


“Ninguém pode traçar fronteiras às conquistas da ciência humana. 


Quanto mais dilatados o serviço e a fraternidade, a educação e a concórdia na Terra, maiores as possibilidades do homem nas conquistas do espaço cósmico.”


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32. Se a ciência humana se servir de seus recursos, pondo em risco a estabilidade do planeta, é de se esperar esteja a humanidade da Terra sujeita a uma intervenção direta da parte de outros planetas?


“Nossa confiança na sabedoria da Providência Divina deve ser completa. 


Ainda mesmo que a Terra se desintegrasse numa catástrofe de natureza cósmica, Deus e a vida não deixariam de existir. 


Uma cidade arrasada num cataclismo não significa a destruição de um povo inteiro. 


Justo que, em nos considerando coletivamente, temos feito por merecer longas aflições e duras provas na Terra, entretanto, diante da Infinita Bondade, devemos afastar quaisquer ideias sinistras da cabeça popular carecedora de harmonia e esperança para evoluir e servir.


Amemo-nos uns aos outros. 


Realizemos o melhor ao nosso alcance. 


Convençamo-nos de que o bem vive para o mal como a luz para a sombra. 


Edifiquemos o mundo melhor começando em nós mesmos, e confiemos na palavra fiel do Cristo, que prometeu amparar-nos e auxiliar-nos “até o fim dos séculos”. 


E assim nos exprimindo não nos propomos afirmar que, a pretexto de contar com Jesus, podemos andar irresponsáveis ou desatentos. 


Não. 


Forçoso trabalhar e cumprir as obrigações que a vida nos trace, a fim de sermos amparados e auxiliados por ele, sejam quais forem as circunstâncias.”




Fonte:
ASSOCIAÇÃO DE DIVULGAÇÃO DA DOUTRINA ESPÍRITA.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

O casamento numa perspectiva espírita - Astolfo O. de Oliveira Filho







O casamento numa perspectiva espírita


Astolfo O. de Oliveira Filho


O Espiritismo nos ensina que o casamento foi um avanço na história da Humanidade e sua abolição seria um retrocesso que poria o homem abaixo mesmo de certos animais


Não há, em todo o direito privado, instituto mais discutido que o casamento. 


LINTON o define como sendo a união socialmente reconhecida entre pessoas de sexo diferente. 


LAURENT o chama de "fundamento da sociedade, base da moralidade pública e privada". 


GOETHE entende que o matrimônio é a base e o coroamento de toda cultura e LESSING diz ser o casamento "a grande escola fundada pelo próprio Deus para a educação do gênero humano", havendo, no entanto, entre filósofos e literatos os seus detratores, como SCHOPENHAUER que afirmou que "em nosso hemisfério monógamo, casar é perder metade de seus direitos e duplicar seus deveres". 


É conhecido no anedotário nacional o ditado que equipara o casamento a uma fórmula matemática: 


uma soma de preocupações, uma subtração da liberdade, uma multiplicação de filhos e uma divisão de bens. 


No campo do direito civil, conceitua-se o matrimônio como a união permanente entre o homem e a mulher, de acordo com a lei, a fim de se reproduzirem, de se ajudarem mutuamente e de criarem os seus filhos.


Historicamente, o casamento começou a receber atenção na Roma antiga, onde se achava perfeitamente organizado. 


Inicialmente havia a confarreatio, casamento da classe patrícia, correspondendo ao casamento religioso. 


Dentre outros traços, caracterizava-se pela oferta aos deuses de um pão de trigo, costume que, modificado, sobrevive até os nossos dias, com o tradicional bolo de noiva. 


A confarreatio não tardou a cair em desuso e era rara já ao tempo de Augusto. 


A coemptio era o matrimônio da plebe, constituindo o casamento civil. 


Finalmente, havia o usus, aquisição da mulher pela posse, equivalendo assim a uma espécie de usucapião. 


O casamento religioso só foi regulamentado pela Igreja no Concílio de Trento (1545-1563). 


Com o tempo, em virtude de inúmeros fatores, inclusive a Reforma protestante, os Estados puseram à margem o casamento religioso e o primeiro país a dar esse passo foi a Inglaterra, ao tempo de Cromwell.







Aspectos jurídicos do casamento


Historicamente, pode-se dizer que quatro formas fundamentais de casamento existiram no mundo: 


1) casamento por rapto ou captura, muito comum entre as tribos que guerreavam entre si e nas civilizações antigas, embora MALINOWSKI entenda que esse tipo de casamento tenha existido mais na teoria do que na prática; 


2) casamento por compra ou troca, comum entre os zulus da África, os índios americanos e os germanos; 


3) casamento por determinação paterna, cultivado sobretudo pelos povos islâmicos e na China e, por fim, 


4) casamento por consentimento mútuo, em que é dispensável a autorização dos pais, salvo se os contraentes forem menores.


ROUAST entende que o matrimônio é ato complexo, ao mesmo tempo contrato e instituição. 


Claro que ele é mais que um contrato, mas não deixa de ser também um contrato. No Brasil, somente em 11/9/1861 foi regulado por Lei o casamento dos acatólicos, que poderia celebrar-se segundo o rito religioso dos próprios nubentes. 


Mas foi somente com a proclamação da República que o casamento perderia seu caráter confessional, instituindo-se no país, em 24/1/1890, com o Decreto no 181, o casamento civil[...]. 








Visão espírita do casamento



ALLAN KARDEC propôs aos Espíritos a seguinte questão: 


- "Será contrário à lei da Natureza o casamento?" 


Eles responderam: 


"É um progresso na marcha da Humanidade". 


Sua abolição seria regredir à infância da Humanidade e colocaria o homem abaixo mesmo de certos animais que lhe dão o exemplo de uniões constantes. 


Em outro item do mesmo livro Kardec anotou: 


"A poligamia é lei humana cuja abolição marca um progresso social. 


O casamento, segundo as vistas de Deus, tem que se fundar na afeição dos seres que se unem. 


Na poligamia não há afeição real: há apenas sensualidade" (O Livro dos Espíritos, 695, 696 e 701).


Segundo os Espíritos, há no homem alguma coisa mais, além das necessidades físicas: há a necessidade de progredir. 


"Os laços sociais são necessários ao progresso e os de família mais apertados tornam os primeiros. Eis por que os segundos constituem uma lei da Natureza. 


Quis Deus que, por essa forma, os homens aprendessem a amar-se como irmãos." 


O relaxamento dos laços de família traria como resultado a recrudescência do egoísmo (cf. O Livro dos Espíritos, 774 e 775).



ALLAN KARDEC,  examinando o tema em outra obra, assim escreveu: 


"Na união dos sexos, de par com a lei material e divina, comum a todos os seres viventes, há outra lei divina, imutável como todas as leis de Deus, exclusivamente moral - a Lei do amor. 


Quis Deus que os seres se unissem, não só pelos laços carnais, como pelos da alma, a fim de que a afeição mútua dos esposos se transmitisse aos filhos, e que fossem dois, em vez de um, a amá-los, cuidar deles e auxiliá-los no progresso" (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 22, item 3).








Planejamento espiritual da família


No estado errante, o Espírito mesmo "escolhe o gênero de provas que deseja sofrer; nisto consiste o seu livre arbítrio" (O Livro dos Espíritos, 258, 851 e 866). 


O acaso, propriamente considerado, não pode entrar nas cogitações do sincero discípulo do Evangelho (Emmanuel, O Consolador, pergunta 186). 


Observe-se, entretanto, que o Espírito escolhe "o gênero de provas"; os detalhes são conseqüência da posição escolhida e freqüentemente de suas próprias ações. 


"Somente os grandes acontecimentos, que influem no destino, estão previstos" (O Livro dos Espíritos, 259). 


Além disso há duas clássicas exceções à regra geral de escolha das provas: 


1) quando o Espírito é simples, ignorante e sem experiência, "Deus supre a sua inexperiência, traçando-lhe o caminho que deve seguir" (O Livro dos Espíritos, 262). 


2) quando possuído pela má vontade ou sendo ainda muito atrasado, Deus pode impor-lhe uma existência que sabe lhe será útil ao progresso; mas "Deus sabe esperar: não precipita a expiação" (O Livro dos Espíritos, 262-A e 337).


A dúvida relativamente à planificação espiritual do casamento pode ser desfeita com os ensinamentos seguintes, transmitidos por EMMANUEL, que foi mentor espiritual da obra de Francisco Cândido Xavier:


1.) Habitualmente somos nós mesmos quem planifica a formação da família, antes do renascimento terrestre, com o amparo e a supervisão dos instrutores beneméritos. 


Comumente chamamos a nós antigos companheiros de aventuras infelizes, programando-lhes a volta em nosso convívio, a prometer-lhes socorro e oportunidade, em que se lhes reedifique a esperança de elevação e resgate, burilamento e melhoria. 


De todos os institutos sociais existentes na Terra, a família é o mais importante, do ponto de vista dos alicerces morais que regem a vida (Emmanuel, Vida e Sexo, cap. 17).

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2.) O colégio familiar tem suas origens sagradas na esfera espiritual. 


Em seus laços, reúnem-se todos aqueles que se comprometeram, no Além, a desenvolver na Terra uma tarefa construtiva de fraternidade real e definitiva (Emmanuel, O Consolador, pergunta 175).

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3.) O matrimônio na Terra é sempre uma resultante de determinadas resoluções tomadas na vida do Infinito, antes da reencarnação dos Espíritos, razão pela qual os consórcios humanos estão previstos na existência dos indivíduos, no quadro escuro das provas expiatórias ou no acervo de valores das missões que regeneram e santificam (Emmanuel, O Consolador, pergunta 179). 


E para que possam bem cumprir seus deveres, faz-se mister a mais entranhada fé em Deus, visto que na prece e na vigilância espiritual encontrarão sempre as melhores defesas (Emmanuel, O Consolador, pergunta 188).

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4.) Quase sempre, Espíritos vinculados ao casal interessam-se na Vida Maior pela constituição da família, à face das próprias necessidades de aprimoramento e resgate, progresso e autocorrigenda. 


Em vista disso, cooperam, em ação decisiva, na aproximação dos futuros pais, aportando em casa, pelos processos da gravidez e do berço, reclamando naturalmente a quota de carinho e atenção que lhes é devida (Emmanuel, Vida e Sexo, cap. 11).

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Tipos de casamento existentes na Terra


Diz-nos ANDRÉ LUIZ que quatro são os tipos de casamento na Terra: 


há uniões marcadas pelo amor; 

há casamentos em que a fraternidade é o sentimento dominante; 


existem uniões de provação e há, por fim, os casamentos criados pelo dever. 


O matrimônio espiritual realiza-se alma com alma. 


"Os demais representam simples conciliações para a solução de processos retificadores" ("Nosso Lar", obra psicografada por Francisco Cândido Xavier, cap. 38, pág. 212).


Ainda no mesmo livro, o autor transmite-nos a informação de que "na fase atual evolutiva do planeta, existem na esfera carnal raríssimas uniões de almas gêmeas, reduzidos matrimônios de almas irmãs ou afins, e esmagadora porcentagem de ligações de resgate. 


O maior número de casais humanos é constituído de verdadeiros forçados, sob algemas" ("Nosso Lar", cap. 20, pág. 113).


E foi por essa ocasião que ANDRÉ LUIZ tomou conhecimento da experiência de seu amigo Lísias, que se noivou no plano espiritual, preparando seu retorno à Terra, em nova encarnação. 


Ele ignorava até então que as bases do casamento terrestre se encontram na vida espiritual, mas sua maior surpresa foi saber que Lísias e sua noiva já haviam acumulado vários fracassos na experiência do matrimônio na Terra, em virtude da imprevidência e da falta de autodomínio, razões de sua perdição no pretérito.





OLIVEIRA FILHO, Astolfo O. O Consolador. Disponível em http://www.oconsolador.com.br/ano2/63/especial.html . Acesso: 16 NOV. 2014.