Berço
Emmanuel
Excetuando-se os planos
organizados para as obras especiais, em que Espíritos missionários senhoreiam
as reservas fisiológicas para a criação de reflexos da Vida Superior entre os
homens, impelindo-os a maior ascensão, todo berço de agora retrata o ontem que
passou.
O caminho que iniciamos em
determinada existência é o prolongamento dos caminhos que percorremos naquelas
que a precederam.
Esfalfa-se a investigação
científica na Terra, estudando o continuísmo biológico.
Núcleos de cromossomos e veículos
citoplásmicos, fatores de ambiente e genealogias familiares são chamados pelos
geneticistas à equação dos problemas da origem e é natural que de suas indagações
surjam resultados notáveis, quais sejam aqueles que tangem aos caracteres
morfológicos e às surpresas da adaptação.
O escalpelo da observação humana,
porém, não consegue, por agora, ultrapassar o recinto externo da constituição
orgânica, detendo-se no exame da conformação e da estatura, da pigmentação e do
grupo sangüineo, alusivos à filiação corpórea, já que os meandros da
hereditariedade psíquica são, por enquanto, quase que integralmente
inacessíveis à sondagem da inteligência terrestre.
E que as células germinais, por
sementes vivas, reproduzem os nossos clichês da consciência no trabalho
impalpável da formação de um corpo novo.
Na câmara uterina, o reflexo
dominante de nossa individualidade impressiona a chapa fetal ou o conjunto de
princípios germinativos que nos forjam os alicerces do novo instrumento físico,
selando-nos a destinação para as tarefas que somos chamados a executar no
mundo, em certa quota de tempo.
Nisso não vai qualquer exaltação
ao determinismo absoluto, porque ninguém pode suprimir o livre-arbítrio, com o
qual articulamos as causas de sofrimento ou reparação em nossos destinos,
dentro do determinismo relativo em que marchamos para mais altas formas de
emoção e pensamento, na conquista da liberdade suprema.
Pelo transe da morte física,
regressamos à Vida Maior com a soma de realizações que nem sempre são aquelas
que devêramos efetuar.
Em muitas circunstâncias, as
imagens trazidas da permanência na carne são fantasmas temíveis, nascidos de
nossas próprias culpas, exigindo reajuste e pagamento, a modelarem para os
nossos sentidos o inferno torturante em que se nos revolvem as queixas e aflições.
Eis, porém, que a Justiça Fiel,
por misericórdia, nos concede o retorno para a bênção do reinício.
Retomamos, assim, através do
berço, o contato direto com os nossos credores e devedores para a liquidação
dos débitos que contraímos, cujo balanço efetivo jaz devidamente contabilizado
nas Leis Divinas.
É desta maneira que comumente
renascemos na Terra, segundo as nossas dívidas ou conforme as nossas
necessidades, assimilando para esse fim a essência genética daqueles que se nos
afinam com o modo de proceder e de ser.
Os problemas da hereditariedade,
em razão disso, descendem, de forma geral, dos reflexos mentais que nos sejam
próprios.
Em verdade, por vezes, abnegados
corações, cultivando a leira do amor pelo sacrifício, trazem a si corações
desditosos, guardando transitoriamente, nos braços, monstruosas aberrações que
destoam do elevado nível em que já se instalaram; contudo, devemos semelhantes
exceções ao espírito de renúncia com que fazem emergir das regiões infernais
velhos laços afetivos, distanciados no tempo, usando o divino atributo da
caridade.
De conformidade com a regra,
porém, nosso berço no mundo é o reflexo de nossas necessidades, cabendo a cada
um de nós, quando na reencarnação, honrá-lo com trabalho digno de restauração,
melhoria ou engrandecimento, na certeza de que a ele fomos trazidos ou
atraídos, segundo os problemas da regeneração ou da mordomia de que carecemos na
recomposição de nosso destino, perante o futuro.
XAVIER, Francisco Cândido pelo
Espírito Emmanuel. Pensamento e Vida, cap.11, p.19-20.
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