quarta-feira, 20 de agosto de 2025

De Tocaia - Hilário Silva



De Tocaia 

Hilário Silva

 

Cap. X – Item 3


Luis Borges, denotado tarefeiro da Causa Espírita, em São Paulo, atravessava calmamente a Avenida São João, na capital bandeirante, quando foi alvejado por um tiro de revólver, estabelecendo-se o rebuliço.


Populares e guardas. 


Assobios e exclamações.


Pobre moço desconhecido e armado foi preso e trazido à presença da vítima.


Borges mostrava-se assustado, mas sereno. 


A bala atingira simplesmente o livro que sobraçava de mão encostada ao peito. 


E esse livro era O Evangelho segundo o Espiritismo, com que se dirigia a certa reunião em favor de um enfermo.


– Peço desculpas. 


O tiro foi casual – rogou o jovem, pálido.


Os policiais contudo, retinham-no furiosos.


Luis Borges, no entanto, buscando a paz, abriu o volume chamuscado e falou:


– Vejamos a mensagem do Evangelho:


E ante o assombro geral, leu, na página aberta, as belas referências do capítulo X 


– Bem-aventurados os que são misericordiosos:


“Então, aproximando dele, disse-lhe Pedro: 


– Senhor, quantas vezes perdoarei a meu irmão quando houver pecado contra mim? 


Até sete vezes?


“Respondeu-lhe Jesus: 


– Não vos digo que perdoeis até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes.”


Quando Borges terminou a ligeira leitura, o moço preso ajoelhou-se na rua e começou a soluçar. 


Só então explicou que ali se achava de tocaia para assassinar o próprio irmão que o havia prejudicado num processo de herança e prometeu desistir de semelhante propósito para sempre.

 

XAVIER, Francisco Cândido; Waldo Vieira Por Espíritos Diversos. Espírito da verdade, cap 88. Jesus Cristo O Divino Pastor e Sua Ovelha:  Ilustração Reproduzida da Internet. Arte:fady_bahgat 

 

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