Homenagem a um Guerreiro
Amílcar Del Chiaro Filho
O que faço agora é um preito de saudade.
Amazonas Hércules desencarnou em 2004.
Talvez muitos possam perguntar: Quem é Amazonas Hércules? Respondo com prazer: um gigante.
Sim! Um gigante que marcou o chão por onde passou com a poeira de estrelas que caíram de seus pés.
Amazonas Hércules foi e é tão grande quanto Jésus Gonçalves. Hanseniano, poeta e espírita como Jésus. Com certeza é um dos últimos ou talvez o último gigante a tombar.
Amazonas Hércules valia cada letra do seu nome.
Foi a alma e o coração do Centro Espírita Filhos de Deus em Curupaiti, um hospital para hansenianos do Rio de Janeiro. Amazonas e seus companheiros realizaram e, certamente, seus amigos continuarão realizando um extraordinário trabalho assistencial à famílias pobres no em torno do Sanatório.
Quando Amazonas Hercules completou 90 anos, escrevi um texto homenageando-o, e pedi a um amigo que mora em Nova Iguaçu, o Marcelo Lopes de Oliveira, para visitá-lo e ler para ele o nosso texto.
Peço licença aos companheiros para transcrevê-lo como a homenagem dessa coluna da Fundação Espírita André Luiz ao gigante de Curupaiti.
"Precisamos aprender a luarizarmos a nossa existência".
Amazonas Hércules.
CANÇÃO PARA UMA SÓ VOZ
Era madrugada.
O luar invadiu o meu quarto bordando um rendilhado de prata ao atravessar a ramagem de uma arvore em meu quintal.
Ouvi um relincho de cavalo, era Pégassus que vinha buscar-me para um passeio no céu.
Montei o cavalo alado, e como Zorro montado seu Ginete branco, partimos em disparada vencendo as nuvens que ocultavam algumas estrelas.
Segredei algo nas orelhas do cavalo e ele partiu em velocidade supersônica, vencendo o tempo e adentrando o passado.
Assisti ao nascimento de uma criança, que recebeu o nome de Amazonas Hércules.
Vi mais do que isto.
Vi uma estrela de primeira grandeza diminuir o seu tamanho até ficar como um grão de mostarda e internar-se no útero de uma mulher, para nascer como criança neste mundo de provas e expiações.
Vi essa criança crescer e sofrer.
Acompanhei-o adulto, carregando uma enorme cruz onde, todos os dias, os cravos longos das dores superlativas o crucificavam como um Cristo dos Sertões, sem que os seus olhos chorassem ou sua boca blasfemasse.
Pude vê-lo subindo o seu Gólgota arrastando a sua enorme cruz, mas vi, também, as cordas mais íntimas de seu coração, transformarem-se em uma "cítara" e executar canções de amor, enquanto seus lábios declamavam lindos versos que brotavam do seu peito incendiado de fraternidade.
Não demorou muito e a lepra solapou as suas forças físicas.
Vieram as mutilações. Os olhos ficaram embaçados. Parte de uma perna foi entregue à natureza que a exigiu antecipadamente.
Seria o fim? Não!
O corpo macerado transformou-se numa ostra, cujas lágrimas foram produzindo camadas de nácar e transformando-se numa pérola, que só uma moeda pode adquirir, o amor!
Querido Amazonas, hercúleo amigo,
os meus versos imperfeitos
Gritam dentro do meu peito
Meu coração, também dorido, está contigo
Salve amigo e companheiro
Discípulo do Mestre Jesus
Raboni feito de luz
Que nos deixou um belo roteiro.
No caminho do teu calvário
O chão ficou todo marcado
Do pó de estrelas, caídos
Dos teus pés iluminados.
No instante em que nasce o arrebol
Mirando a tua grandeza
Vi com toda a certeza
Fostes feito da luz do sol
Com carinho do teu discípulo
Amílcar Del Chiaro Filho
Fonte:
FUNDAÇÃO ESPÍRITA ANDRE LUIZ. Disponível em : http://www.feal.com.br/artigo.php?car_id=35&col_id=1&t=Homenagem-A-Um-Guerreiro. Acesso: 15 AG. 2012.
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