Valéria
Chico de Francisco
Chico, você já chorou?
- Sim, meu filho, muito. Vou-lhe contar uma história em que muito, chorei. Durante anos, visitamos uma amiga que havia se tornado paralítica e muda, levando em cada visita um pacote de biscoitos, um pedaço de bolo ou um doce qualquer. Quando já havíamos completado seis anos de visitas, lhe disse:
- Valéria, hoje estou com a impressão de que você pode falar. Fale, Valéria. Diga pelo menos "Jesus".
Ela olhou-me demoradamente. Os olhos, límpidos como um céu sem nuvem. Fez um esforço muito grande, mas não conseguiu falar.
Após a prece, voltei a insistir:
- Valéria, Jesus andou no mundo, curou tanta gente, tantos iam buscá-Lo nas estradas, ou na casa onde Ele permanecia e pediam-lhe a graça da melhora ou da cura e foram curados. Imagine-se caminhando ao encontro de Jesus, embora você não ande há tantos anos. Imagine-se olhando-O e dizendo "Jesus". Fale "Jesus", Valéria. Ela fez novamente um grande esforço, olhou-me demoradamente. Por fim, conseguiu dizer.
- "JESUSO"
Fiquei muito emocionado e as lágrimas me vieram aos olhos. Pedi a alguém que chamasse sua irmã:
- Valéria, minha filha, fale para sua irmã. Há muitos anos que ela não ouve o som de sua voz. Fale outra vez "Jesus".
Ela nos olhou demoradamente. Fez novamente um esforço enorme e repetiu:
"JESUSO".
Quando nos retiramos, estivamos todos contentes e achávamos que, com o tempo, Valéria iria conseguir pronunciar algumas palavras.
Na semana seguinte, porém, ela desencarnou.
Alguns anos mais tarde, começou a aparecer-me uma entidade na forma de uma senhora muito bonita. Quando chegava, todo o meu quarto ficava iluminado. Procedia então à transmissão do passe na regido do tórax, mais propriamente sobre o coração. E assim procedeu por um mês, aproximadamente.
Foi nessa época que tive o primeiro enfarte.
Mais tarde, recuperado, graças à Misericórdia Divina, no período em que fiquei vinte dias mais ou menos imóvel, a entidade apareceu-me novamente. Então lhe disse:
- Ah! minha irmã, agora compreendo porque você me dava passes no coração. Estava fortalecendo-me para resistir ao enfarte que viria, não é mesmo?
Acenou-me afirmativamente com a cabeça.
- Olhe, quero que me dê seu nome para eu orar por você. Estou-lhe muito grato pela carinhosa assistência.
- Chico, somos tão amigos que não vou lhe dar meu nome. Vou dizer uma palavra e você vai se lembrar de mim.
- Será, minha irmã?
- Tenho certeza, Chico.
- Então diz.
- "JESUSO".
- Ah! Valéria, era você então... Como você está bonita... Eu não mereço a sua visita...
- Sim, eu mesma. Vim lembrar os nossos sábados em que orávamos tanto. Lembro-me com emoção da última palavra que pronunciei e vim trazer-lhe confiança em Jesus. O nome de Jesus tem muita força, Chico.
- Então, ela colocou a mão sobre o meu peito e a dor desapareceu.
Fonte:
SILVEIRA, Adelino . Chico de Francisco. São Paulo: Cultura Espírita União, 1987, p.71.
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