Tempo certo
Hammed
“... Aquele que
semeia saiu a semear; e, enquanto semeava, uma parte da semente caiu ao longo
do caminho...”
“... Mas aquele que recebe a semente numa boa terra é aquele
que escuta a palavra, que lhe presta atenção e que dá fruto, e rende cento, ou
sessenta, ou trinta por um.”(Capítulo 17, item 5).
Na vida, não existe antecipação nem adiamento, somente o
tempo propício de cada um.
A humanidade, em geral, recebe as sementes do crescimento
espiritual a todo o instante.
Constantemente, a Organização Divina emite ideias de
progresso e desenvolvimento, devendo cada indivíduo absorver a sementeira de
acordo com suas possibilidades e habilidades existenciais.
A Natureza nos presenteia com uma diversidade incontável de
flores, que nos encantam e fascinam.
Certamente, não as depreciaríamos apenas por achar que
vários botões já deveriam ter desabrochado dentro de um prazo determinado por
nós, nem as repreenderíamos por suas tonalidades não ser todas iguais conforme
nossa maneira de ver.
Nem poderíamos sequer compará-las com outras flores de
diferentes jardins, por estarem ou não mais viçosas. Deixemos que elas possam
germinar, crescer e florir, segundo sua natureza e seu próprio ritmo
espontâneo. Isso será sempre mais óbvio.
Parece racional que ofereçamos a quem amamos o mesmo
consentimento, porque cada ser tem seu próprio ―marco individual nas estradas
da vida, e não nos
é permitido violentar sua maneira de entender, comparando-o
com outros, ou forçando-o com nossa impaciência para que ―cresçam e ―evoluam‖,
como nós acharíamos que deveria ser.
Cada um de nós possui diferenças exteriores, tanto no
aspecto físico como na forma de se vestir, de sorrir, de falar, de olhar ou de
se expressar. Por que então haveríamos de florescer a toque de caixa?
Nossa ansiedade não faz com que as árvores dêem frutos
instantâneos, nem faz com que as roseiras floresçam mais céleres. Respeitemos,
pois, as possibilidades e as limitações de cada indivíduo.
Jesus, por compreender a imensa multiformidade evolucional
dos homens, exemplificou nessa parábola a dissemelhança das criaturas,
comparando-as aos diversos terrenos nos quais as sementes da Vida foram
semeadas.
As que caíram ao longo do caminho, e os pássaros as comeram,
representam as pessoas de mentalidade bloqueada e restringida, que recusam
todas as possibilidades de conhecimento que as conteste, ou mesmo, qualquer
forma que venha modificar sua vida ou interferir em seus horizontes
existenciais.
São seres de compreensão e aceitação diminuta ou quase nula.
São comparáveis aos atalhos endurecidos e macerados pela ação do tempo.
Outras sementes caíram em lugares pedregosos, onde não havia
muita terra, mas logo brotaram. Ao surgir o sol, queimaram-se porque a terra
era escassa e suas raízes não eram suficientemente profundas.
Foram logo ressecadas porque não suportaram o calor da
prova; e, por serem qualificadas como pessoas de convicção flutuante‖, torraram
rapidamente seus projetos e intenções.
Nossas bases psicológicas foram recolhidas nas experiências
do ontem. São raízes do passado que nos dão manutenção no presente para ir
adiante, nos processos de iluminação interior.
Quando os caules não são suficientemente profundos e
vetustos, há bloqueios tanto em nossa consciência intelectual como na
emocional. Um mecanismo opera de forma a assimilar somente o que se pode
digerir daquela informação ou ensinamento recebido.
Assim, a disponibilidade de perceber a realidade das coisas
funciona nas bases do potencial e da viabilidade evolutiva‖ e, portanto, impor
às pessoas que sejam sensíveis ou que progridam, além de desrespeito à
individualidade, é fator perigoso e destrutivo para exterminar qualquer tipo de
relacionamento.
Os espinheiros que, ao crescer, abafaram as sementes
representam as idéias sociais‖ que impermeabilizam a mentalidade dos seres
humanos, pois, no tempo do Mestre, as leis do Torah asfixiavam e regulamentavam
não somente a vida privada, mas também a pública.
Os indivíduos que não pensam por si mesmos acabam caindo nos
domínios das normas e regras, sem poder erguer em demasia a sua mente, restrita
pelas idéias vigentes, o que os sentencia a viver numa frustração grupal, visto
que seu grau de raciocínio não pode ultrapassar os níveis permitidos pela
comunidade.
Jesus de Nazaré combateu sistematicamente os espinhos da
opressão na pessoa daqueles que observavam com rigor rituais e determinações
das leis, em detrimento da pureza interior.
Dessa forma, Ele desqualificou todo espírito de casta entre
as criaturas de sua época.
As demais sementes, no entanto, caíram em boa terra e deram
frutos abundantes.
O que é um ―solo fértil?
Nossos patrimônios de entendimento, de compreensão e de
discernimento não ocorrem por acaso, porquanto nenhum aprendizado nos envolverá
profundamente se não estivermos dotados de competência e habilidades
propiciadoras.
A boa absorção ou abertura de consciência acontece somente
no momento em que não nos prendemos na forma. Aprofundarmo-nos no conteúdo real
quer dizer:
-Quem não quebra a noz, só lhe vê a casca. Mas para quebrar
a noz e preciso senso e noção, base e atributos que requerem tempo para se
desenvolverem convenientemente.
A consciência da criatura, para que seja receptiva, precisa
estar munida de despertamento natural e amadurecimento psicológico.
Reforçando a idéia, examinemos o texto do apóstolo Marcos,
onde encontramos: ―porque a terra por si mesma frutifica, primeiro a erva,
depois a espiga, e por último o grão cheio na espiga. O Mestre aceitava
plenamente a diversidade humana.
Ele se opunha a todo e qualquer nivelamento psicológico e,
portanto, lançou a Parábola do Semeador, a fim de que entendessemos que o melhor
apoio que prestaríamos a nossos companheiros de jornada seria simplesmente
esperar em silêncio e com paciência.
Portanto, compreendamos que a nós, somente, compete semear;
sem esquecer, porém, que o crescimento e a fartura na colheita dependem da chuva
da determinação humana‖ e do solo generoso‖ da psique do ser, onde houve a
semeadura.
ESPÍRITO SANTO NETO, Francisco pelo Espírito Hammed .
Renovando Atitudes, CAP. 13
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