Os portões de chegada
Cada abraço daqueles guarda uma história diferente...
Cada reencontro daqueles revela um outro mundo, uma outra
vida, diversa da nossa, da sua...
Se você nunca teve a oportunidade de observar, por mais de
cinco segundos, todas aquelas pessoas - desconhecidos numa multidão - esperando
seus amigos, seus familiares, seus amores, não tenha medo de perceber da
próxima vez, a magia de um momento, de um lugar.
Falamos dos portões de chegada de um aeroporto, um desses
lugares do mundo onde podemos notar claramente a presença grandiosa do amor.
Invisível, quase imperceptível, ali ele está com toda sua
sublimidade.
Nas declarações silenciosas de um olhar tímido. No calor
ameno de um abraço apertado. No breve constrangimento ao tentar encontrar
palavras para explicá-lo.
Na oração de três segundos elevada ao Alto - agradecendo a
Deus por ter cuidado de seu ente querido que retorna.
Richard Curtis, que assina a produção cinematográfica de
nome “Love Actually” - traduzida no Brasil como “Simplesmente Amor”, traz essas
cenas com uma visão muito poética e inspirada.
O autor oferece na primeira e última cenas do filme exatamente
a contemplação dos portões de chegada de um aeroporto e de seu belíssimo
espetáculo representando a essência do amor.
Ouve-se um narrador, nos primeiros segundos, confessando
que, toda vez que a vida se lhe mostrava triste, sem graça, cruel, ele se
dirigia para o aeroporto para observar aqueles portões e ali encontrava o amor
por toda parte.
Seu coração alcançava uma paz, um alívio, em notar que o
amor ainda existia e que ainda havia esperança para o mundo.
Isso tudo pode parecer um tanto poético demais para os mais
práticos, é certo.
Assim, a melhor forma de compreender a situação proposta é a
própria vivência.
Sugerimos que faça a experiência de, por alguns minutos,
contemplar essas cenas por si mesmo, seja na espera de aviões ou outros meios
de transporte coletivos.
Propomos que parta de uma posição mais analítica, de início,
com algumas pitadas de curiosidade:
Que grau de parentesco possuem aquelas pessoas? - Há quanto
tempo não se veem? - De onde chegam?
Ou, quem sabe, sobre outros: Que histórias têm para contar!
- O que irão narrar por primeiro ao
saírem dali? Sobre a família, sobre a viagem, sobre a espera em outro
aeroporto?
Ao perceber lágrimas em alguns olhos, questione: De onde
elas vêm? - Há quanto tempo não se encontram? - Que felicidade não existe
dentro da alma naquele momento!
Por fim, reflita:
Por quanto tempo aquele instante irá ficar guardado na
memória! O instante do reencontro...
Tudo isso poderá nos levar a uma analogia final, a uma nova
questão: não seria a Terra um imenso aeroporto? Um lugar de chegadas e partidas
que não param, constantes, inevitáveis?
Pensando nos portões de chegada na Terra, lembramos dos
bebês, que abraçamos ao nascerem, com este mesmo amor daqueles que esperam num
aeroporto por seus amados.
Choramos de alegria, contemplando a beleza de uma nova vida,
e muitas vezes este choro é de gratidão pela oportunidade do reencontro.
É um antigo amor que, por vezes, volta ao nosso lar através
da reencarnação.
Pensando agora nos portões de partida, inevitavelmente
lembramos da morte, da despedida.
Mas este sentir poderá ser também feliz!
Como o sentimento que invade uma mãe ou um pai que dá adeus
a um filho que logo embarcará em direção a outro país, a fim de fazer uma
viagem de aprendizagem, de estudo ou profissional.
Choram sim, de saudade, mas o sentimento que predomina no
bom coração dos pais é a felicidade pela oportunidade que estão recebendo, pois
têm consciência de que aquilo é o melhor para ele no momento.
* * *
Vivemos no aeroporto Terra.
Todos os dias milhares partem, milhares chegam.
Chegadas e partidas são inevitáveis.
O que podemos mudar é a forma de observá-las.
Redação do Momento Espírita com base no cap. Os portões de
chegada, do livro O que as águas não
refletem, de Andrey Cechelero. Disponível no CD Momento Espírita, v. 12, e no
livro Momento Espírita v. 6, ed.
Fep.Disponível em www.momento.com.br.
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