terça-feira, 31 de agosto de 2021

HISTÓRIA DE QUIMQUIM - Cornélio Pires

 


HISTÓRIA DE QUIMQUIM

Cornélio Pires


Em carta, você pergunta,

Meu caro Alírio Trindade,

Como é que se desenvolve

O dom da mediunidade.


Você termina, indagando

Quanto ao nobre compromisso

Qual a maneira mais certa

De começar o serviço.


Ser médium, meu bom amigo,

Em qualquer tempo e lugar,

Pede atenção para o estudo

E gosto de trabalhar.


Na alegria do começo,

Qualquer irmão se equilibra,

Mas a tarefa depois

Precisa de muita fibra.


No assunto, quero contar-lhe

O caso de um companheiro,

Sei que você vai lembrá-lo:

É o nosso Quinquim Monteiro.


Quinquim curou-se num Centro

De uma dor no calcanhar,

Notando a força da prece,

Quis ser médium, trabalhar...


Iniciou-se, feliz,

No "Grupo do Irmão Carlindo,"

Mas a obra foi crescendo

E o trabalho foi subindo...


Muita gente em provação,

Muita amizade a sofrer,

"Servir e entender a todos"

Passara a simples dever.


A tarefa perdurava

Não se sabia até quando,

Quinquim começou nas falhas

E seguiu desanimando...


nas noites de reuniões,

Não negava a própria fé,

Mas falava de fadiga,

De dor na nuca ou no pé.


Mostrava as pernas doendo,

Tinha angústia, batedeira,

Dizia sofrer de insônia,

Às vezes, por noite inteira.


Lastimava resfriados,

Inflamações do nariz,

Se alguém lhe pedia amparo,

Confessava-se infeliz.


Acusava-se vencido,

Estava sempre cansado,

Nas horas do reumatismo,

Padecia dor de lado.


Se alguém lhe falasse em preces,

Quinquim falava em descanso,

Era um retrato da queixa

Na cadeira de balanço.


Sempre a clamar contra a vida,

Sem domínio da vontade,

Quinquim largou-se ao repouso,

Perdendo a mediunidade.


Passou a viver deitado,

Não tinha fome nem sede,

Em seguida, piorou,

Cansado de cama e rede.


Quando quis recuperar-se,

A morte olhava Quinquim,

O pobre já tinha o nome

No grande listão do fim.


E o assunto é esse aí...

Se você quer triunfar,

Não escute corpo mole,

Nem pare de trabalhar.

 

 XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Cornélio Pires, Baú de casos. São Paulo: Ideal.

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

AS DUAS BANDAS - Cornélio Pires


 

AS DUAS BANDAS

Cornélio Pires


Recebi a sua carta,

Meu caro Antônio José,

Sobre antiga indagação

No campo de nossa fé.


Diz você: "Caro Cornélio,

Escute. Por que será

Que tanta gente prefere

Viver na banda de lá?


Na banda de cá, nós temos

Esperança, paz e luz,

Trabalho de melhoria

Nos créditos de Jesus.


Mas creia que dói saber

Quando se nota e se pensa

Que temos tantos amigos

Enrolados na descrença."


A linha que você fez,

A meu ver, melhor não há:

Separando a nossa banda

Da outra banda de lá.


No entanto, a minha resposta

É igual à que você tem;

Infeliz de quem descrê

Da vida no Mais Além.


Podem surgir brigalhada,

Reclamação, amargura,

Mas no meio dos pampeiros

A fé se mantém segura.


Na banda de cá, por vezes,

A provação fere fundo,

Contudo, a crença dissolve

Qualquer problema do mundo.


Há pessoas separadas,

Bom sendo não nega isso,

Porque nem todos trabalham

Sob o mesmo compromisso.


Ante os que busquem servi-los,

Estão sempre insatisfeitos,

Não procuram qualidades,

Vivem catando defeitos.


Quase sempre, são pessoas

Nessa estranha anomalia:

Cabeça farta de ideias

Com vida seca e vazia.


Da banda de cá, no entanto,

Pode haver muita intriguinha,

Muita lama e tempestade,

Mas a pessoa caminha.


Na banda de lá, meu caro,

Há muita sombra escondida

E muita gente chorando

Sem fé no poder da vida.


Os irmãos que vivem lá

E nisso é que me embaralho,

Desejam achar a fé

Mas não desejam trabalho.


Procuram revelações,

Prodígios fenomenais,

Querem verdades ao certo,

Quando encontram querem mais.


Sendo assim, todos achamos

Muitas lutas por vencer,

Burilamento reclama

Cada qual em seu dever.


Por isso, meu caro amigo,

Sob a fé que serve e anda,

Continuemos fiéis

Do lado de nossa banda.


E supliquemos a Deus

Que a todos sustentará,

Muito amparo à nossa banda

E paz na banda de lá.

 

 XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Cornélio Pires, Baú de casos. São Paulo: Ideal.

domingo, 29 de agosto de 2021

NOTÍCIA DA SOMBRA - Cornélio Pires

 

 


NOTÍCIA DA SOMBRA

Cornélio Pires


Prezada Marta Eliana,

Deseja você que eu diga

Como é que se vê do Além

A trajetória da intriga.


De tratamento difícil

A sua estimada carta.

Não sei como respondê-la...

Desculpe, querida Marta.


Comparo a intriga à uma sombra

Que atrapalha qualquer vida,

Por dentro do coração

Em que seja recebida.


Para notar-lhe de perto

A força estranha e nefasta,

Certa vez, acompanhei-a

Nas trilhas onde se arrasta.


Notei-a falando baixo

Com Zeferina do Alfeu,

Decorridos alguns dias

A coitada enlouqueceu.


Outra porta que se abriu

Foi a de Gino Delgado,

O pobre, depois de ouvi-la,

Atirou sobre o cunhado.


Em seguida, conversou

Com Dona Flora Bonilha,

Dona Flora transtornada

Espancou a própria filha.


Tomou a atenção de Juca,

Sobre o filho, o João Libório;

O pai, depois de alguns dias,

Rumou para o sanatório.


Buscou a loja de Zeca

Pixando Elísio Coutinho;

No outro dia, Zeca, em fúria,

Avançou sobre o vizinho.


Observe a confusão,

Onde a sombra ganha pé,

Principalmente nas casas

Que se dedicam à fé.


Grupo Espírita modelo,

Era o Centro da Irmã Rosa,

Que após aceitar a sombra,

Acabou-se em polvorosa.


Ela, um dia, penetrou,

No Instituto da Oração,

Em pouco tempo, o Instituto

Caiu em perturbação.


Um grupo de caridade,

Era o de Irmã Genoveva,

O grupo abraçou a sombra,

Depois envolveu-se em treva.


Tome cuidado... A pessoa

Que acolhe a intriga onde esteja

Adoece sem notar

A influência malfazeja.


Não tema. Você conhece...

Onde a sombra se detém,

A conversa vai saindo

Dos alicerces do bem.


Quanto ao mais, lembro o conselho

Do velho Cirino Horta:

_"Quando a intriga aparecer,

Nada ouça e cerre a porta."

 

 XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Cornélio Pires, Baú de casos. São Paulo: Ideal.

 

sábado, 28 de agosto de 2021

PERSEGUIÇÃO - Cornélio Pires

 




PERSEGUIÇÃO

Cornélio Pires


"Por que teria Jesus

Nos ensinos salvadores,

Recomendado a oração

Por nossos perseguidores?"


Resumindo as suas notas,

Meu caro Lucas Ferraz,

Eis a pergunta concreta

Que, em suma, você nos traz.


Examinando, na essência,

A própria questão exposta,

O ensino simples e claro

Por si demonstra a resposta.


Quem persegue ou prejudica,

Em todo e qualquer lugar,

Como esteja, está comprando

Muita dívida a pagar.


Se a pessoa perseguida

Exerce a paz e o perdão

A prova que experimente

É degrau de elevação.


Agora, depois da morte,

No que tenho conhecido,

São muitos casos amargos

Que vejo nesse sentido.


Janjão tomou de Nhô Chico

A Fazenda da Cancela

Em seguida, faleceu

E vive agarrado a ela.


Lelé perseguindo Juca

Armou enorme alçapão,

Mas em vez do desafeto

Aleijou o próprio irmão.


Totó perseguia Joana,

Dizendo agir por amor,

Depois da morte, o coitado

Tem nome de obsessor.


Antão para unir-se à Gina,

Liquidou com Gil do Estalo,

Mas Gil nasceu filho dele

E vive a crucificá-lo.


Antônia arrasou com Jonas

Para casar com Rodrigo,

Que renasceu entre os dois

Cobrando débito antigo.


Nhô Chico tomava terras

Ganhava qualquer contenda,

Desencarnado, é um fantasma

Numa furna da fazenda.


Veja assim o ensinamento:

Vida correta é dever,

Vale mais sofrer na vida

Que a gente fazer sofrer.


Perseguido paciente

Vive sempre melhorando...

Quem persegue sofre, sofre

E não se sabe até quando.

 

XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Cornélio Pires, Baú de casos. São Paulo: Ideal.

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

PROVAS E CALAMIDADES - Cornélio Pires

 


PROVAS E CALAMIDADES

Cornélio Pires


Você nos pergunta, em carta,

Meu caro Alfeu Segismundo,

Como encontrar alegria

Nas graves provas do mundo.


E continua afirmando:

_ "Cornélio, o que diz você?

Tanta lágrima na Terra,

Não sei explicar porquê...


Basta ler, ouvir e ver,

Nos campos de informação,

E a gente sofre pensando

Em tanta tribulação.


É guerra que não se acaba,

É desespero alastrando,

É clima destemperado,

Calamidades em bando...


É tromba d'água caindo,

Geada, seca, maré...

Amargura e insegurança

Surgem na falta de fé.


É desastre, a toda hora,

É murro de força bruta...

De que modo ser feliz

Em meio de tanta luta?"


digo, porém, caro amigo,

Que a Terra foi sempre assim:

_ A escola que sempre educa,

Tanto a você, quanto a mim.


Você sabe: o educandário

Em que a gente se renova

Reclama trabalho, esforço,

Lição, disciplina e prova...


Mas se quer felicidade,

Medite, prezado Alfeu,

Nas cousas boas da vida

Que você já recebeu.


Pense nas almas queridas

Que o situaram no bem,

Nos recursos que o protegem,

Nas amizades que tem.


Olhe o poder que possui

De buscar o que lhe agrade,

Você consegue mover-se,

Conforme a própria vontade.


Lembre o sono que desfruta,

A mesa que o reconforta,

A fonte jorrando em casa,

O pão que lhe vem à porta.


Recorde a sombra vencida

Pelos dons da luz acesa,

Os recursos do progresso

E as bênçãos da natureza.


Medite nos animais

Que sofrem no dia-a-dia,

Para que o prato lhe seja

Um transmissor de alegria.


Pense nos dias tranquilos

De estudo, de calma e prece,

Nas horas somente suas

Em que ninguém lhe aborrece.


Então, você notará,

De atenção célere e pronta,

Que os benefícios da Terra

São benefícios sem conta.


Em síntese, caro amigo,

No mundo, a gente, a meu ver,

Muito pouco sofreria

Se soubesse agradecer.


Se você quer progredir

Na luz que Deus nos consente,

Esqueça a conversa mole,

Largue a queixa e siga em frente.

 

XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Cornélio Pires, Baú de casos. São Paulo: Ideal.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

PROBLEMA DE QUEIXAS- Cornélio Pires

 


PROBLEMA DE QUEIXAS

Cornélio Pires


Tenho aqui sua consulta,

Meu caro Raimundo Seixas;

Você pede opinião

Quanto ao problema das queixas.


Sem rodeios sobre o assunto,

Posso afirmar, meu irmão,

Toda queixa, quase sempre,

É conversa gasta em vão.


A gente chora, reclama,

No entanto, o caso é sabido:

Lamentação sem trabalho

É voz de tempo perdido.


Cada pessoa recebe

Certo serviço a fazer,

Somos nós servos da vida,

Cada qual em seu dever.


Se o espírito é rebelde,

Perante o mínimo encargo,

Inclina-se para a fuga

Começando em verbo amargo.


Lastima-se contra o tempo

Em tudo, seja onde for,

Censura-se o pó, a pedra,

O vento, o frio, o calor...


Mas nessa história de queixas,

Você pode registrar:

Quem caminha reclamando

Principia a piorar.


Dever é um fardo do Céu

E a quem o vote a desprezo,

Surge uma lei vigorosa

Impondo ao fardo mais peso.


Parece que Deus nos cede

Uma cruz de dons extremos,

Fugindo a ela, encontramos

As cruzes que merecemos.


Você recorda o Alexandre,

Clamava contra chefias...

Depois, ficou sem trabalho

Por mais de quinhentos dias.


Chorando quatro cruzeiros,

Saiu Antonico Brotas,

Vindo logo a tromba d'água

Levou-lhe o colchão de notas.


Reclamando anel perdido,

A irada Dona Rosenda,

Transportando vela acesa,

Incendiou a fazenda.


Ao queixar-se contra a esposa,

Laurindo da Conceição

Atirou dez mil cruzeiros

Na fogueira de São João.


Zangando-se contra a chuva

Dona Liquinha Pastura,

Ao correr, teve uma queda

De quatro metros de altura.


Penso hoje, caro irmão,

Pelas provas que já vi:

A pessoa, em se queixando,

Perde o controle de si.


Após a morte do corpo

É que se vê quanta gente

Lastima o tempo perdido

Ao zangar-se inutilmente.


Anote o caso em você,

Em você e em derredor:

Na vida de quem se queixa

A vida fica pior.


Se você quer ser feliz

Na terra e no Mais Além,

Trabalhe, siga e prossiga

Sem se queixar de ninguém.

 

XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Cornélio Pires, Baú de casos. São Paulo: Ideal.

 

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

PRECIOSO SERVIDOR - Cornélio Pires

 


PRECIOSO SERVIDOR

Cornélio Pires


Respondendo a sua carta,

Afirmo, prezado Elmano:

_ Dinheiro é amparo do Céu

Entregue ao progresso humano.


Nunca censure a moeda.

Bem dirigida, a finança

É bênção para o trabalho

E uma fonte de esperança.


Para mostrar o dinheiro

No apoio que descortina,

Trago a você nesta carta

Uma lição pequenina.


Calimério foi à rua

Seguido de um companheiro

Que conquistara, ajudando

Na casa de um carpinteiro.


O irmão que você conhece

Comportava-se por guia,

Fez-se o outro associado

Que escutava e obedecia.


Tratava-se de um amigo

Dos melhores que se tem,

Quando a pessoa deseja

Viver cultivando o bem.


Notei logo o quadro lindo

Que se formara nos dois,

Onde passassem servindo

A luz brilhava depois.


Ambos levaram socorro

Para Zulmira Noé;

A doente que descria

Recobrou a própria fé.


Promoveram leito novo

Com todo conforto à mão

Para o velho Regozino

Que esmorecera no chão.


Trouxeram novo agasalho

Para o quarto do Agenor,

O enfermo desamparado

Que pedia cobertor.


Viram ambos a alegria

Na viúva do Albernaz,

A quem deram de presente

Um grande bujão de gás.


Ao telheiro de Angelina,

A viúva do Zé França,

Trouxeram penicilina,

Socorrendo uma criança.


Ao recanto da viúva

Lilia da Conceição

Enriqueceram a mesa

De leite, açúcar e pão.


E a festa foi sempre assim

Pelo restante do dia,

Onde a dupla aparecesse

a esperança renascia.


Unidos para a bondade

Recordavam cireneus,

Respeitados em silêncio

Por missionários de Deus.


Agora, digo a você

Quem era esse servidor

Que ofertava tanto auxílio

Nesse banquete de amor.


O amigo de Calimério

Que lhe atendia à vontade,

Tem este nome bendito:

_ "Dinheiro da Caridade."


 XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Cornélio Pires, Baú de casos. São Paulo: Ideal.


terça-feira, 24 de agosto de 2021

ALMAS SEM FÉ - Cornélio Pires

 


ALMAS SEM FÉ

Cornélio Pires


Em carta, você pergunta,

Meu caro Antônio Peri,

De que modo almas sem fé

Costumam viver aqui.


Diz você "almas sem fé."

E a sua definição

Faz com que a gente medite

Nos assuntos tais quais são.


A você posso afirmar

De quanto agora conheço:

Cada qual, depois da morte,

Procura o próprio endereço.


Quem se dedica a elevar-se

No campo do dia-a-dia,

Vive no Além pela fé

No trabalho a que servia.


Mas quem anda mundo afora,

sem ideal ou sem crença,

Na Terra ou fora da Terra,

Está naquilo que pensa.


Nesse caso, vale pouco

A morte por nova estrada,

A mente em desequilíbrio

Continua alucinada.


Quem viveu só para si

Segue essa linha incorreta

E é tanta gente no embrulho

Que eu mesmo fico pateta.


Você recorda o João Panca

No Roçado da Parede,

Desencarnado em preguiça

Vive atolado na rede.


Garimpeiro apaixonado,

Manoelino de Nhá Chica,

Sem corpo, mora na serra,

Caçando mina de mica.


Tanto pensava em comida

Que Altino de ista Bela,

No Além, traçou na cabeça

A forma de uma panela.


Bebedor como ninguém,

Nosso Anselmo Rosmaninho

Já morreu, há muito tempo,

E está no copo de vinho.


Sempre parada no ouro,

desencarnou Dona Rita,

Está sem corpo, há dez meses,

E a pobre não acredita.


Conquistador, morreu Nico,

Hoje, ao fazer-se presente,

Ele ataca de fantasma

E as moças correm na frente.


Tanto buscava adorar-se

Que Esmeraldina Botelho,

Depois de desencarnada,

Não larga a face do espelho.


Sem esforço em que progrida,

Tal qual por aqui se vê,

É muita gente que vive

Sem saber como e porquê...


A vida sem ideal

É trilha na contramão,

Dificuldade e perigo

Seguindo sem direção.


Use o carro de seu corpo,

Servindo e amando com fé.

Quem age e confia em Deus

Não precisa marcha à ré.


 XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Cornélio Pires, Baú de casos. São Paulo: Ideal, p.7-10