sexta-feira, 27 de julho de 2018

Explicação do que é bônus-hora, ou horas de serviço ao próximo, mostrando a eterna continuidade da vida... Antonio Carlos Piesigilli



                    




Explicação do que é bônus-hora, ou horas de serviço ao próximo, mostrando a eterna continuidade da vida... 


Antonio Carlos Piesigilli



Notando que a senhora Laura entristecera subitamente ao recordar o marido, modifiquei o rumo da palestra, interrogando: 


- Que me diz do Bônus-Hora? 


Trata-se de algum metal amoedado? 


Minha interlocutora perdeu o aspecto cismativo, a que se recolhera, e replicou, atenciosa: 


- Não é propriamente moeda, mas ficha de serviço individual, funcionando como valor aquisitivo. 


- Aquisitivo? - perguntei abruptamente. 


- Explico-me - respondeu a bondosa senhora -; 


em "Nosso Lar" a produção de vestuário e alimentação elementares pertence a todos em comum. 


Há serviços centrais de distribuição na Governadoria e departamentos do mesmo trabalho nos Ministérios. 


O celeiro fundamental é propriedade coletiva.


Ante meu gesto silencioso de espanto, acentuou:


- Todos cooperam no engrandecimento do patrimônio comum e dele vivem. 


Os que trabalham, porém, adquirem direitos justos.


Cada habitante de "Nosso Lar" recebe provisões de pão e roupa, no que se refere ao estritamente necessário; mas os que se esforçam na obtenção do bônus-hora conseguem certas prerrogativas na comunidade social.


O espírito que ainda não trabalha, poderá ser abrigado aqui; no entanto, os que cooperem podem ter casa própria.


O ocioso vestirá, sem dúvida; mas o operário dedicado vestirá o que melhor lhe pareça; compreendeu?


Os inativos podem permanecer nos campos de repouso, ou nos parques de tratamento, favorecidos pela intercessão de amigos; entretanto, as almas operosas conquistam o bônus-hora e podem gozar a companhia de irmãos queridos, nos lugares consagrados ao entretenimento, ou o contacto de orientadores sábios, nas diversas escolas dos Ministérios em geral.


Precisamos conhecer o preço de cada nota de melhoria e elevação. 


Cada um de nós, os que trabalhamos, deve dar, no mínimo, oito horas de serviço útil, nas vinte e quatro de que o dia se constitui.


Os programas de trabalho, porém, são numerosos e a Governadoria permite quatro horas de esforço extraordinário, aos que desejem colaborar no trabalho comum, de boa-vontade.


Desse modo, há muita gente que consegue setenta e dois "Bônus-Hora", por semana, sem falar dos serviços sacrificiais, cuja remuneração é duplicada e, às vezes, triplicada.


- Mas, é esse o único título de remuneração? - perguntei.


- Sim, é o padrão de pagamento a todos os colaboradores da colônia, não só na administração, como também na obediência.


Lembrando as organizações terrestres, indaguei, espantado:


- Todavia, como conciliar semelhante padrão com a natureza do serviço? 


O administrador ganhará oito bônus-hora na atividade normal do dia, e o operário do transporte receberá a mesma coisa? 


Não é o trabalho do primeiro mais elevado que o do segundo?


A senhora sorriu à pergunta e explicou:


- Tudo é relativo. 


Se, na orientação ou na subalternidade, o trabalho é de sacrifício pessoal, a expressão remunerativa é justamente multiplicada.


Examinando, porém, mais detidamente a sua pergunta, precisamos, antes de mais nada, esquecer determinados prejuízos da Terra.


A natureza do serviço é problema dos mais importantes; contudo, na própria esfera da crosta é que o assunto apresenta solução mais difícil.


A maioria dos homens encarnados está simplesmente ensaiando o espírito de serviço e aprendendo a trabalhar nos diversos setores da vida humana. 


Por isso mesmo, é imprescindível fixar as remunerações terrestres com maior atenção.


Todo o ganho externo do mundo é lucro transitório. 


Vemos trabalhadores obcecados pela questão de ganhar, transmitindo fortunas vultosas à inconsciência e à dissipação; outros amontoam expressões bancárias que lhes servem de martírio pessoal e de ruína à família.


Por outro lado, é indispensável considerar que setenta por cento dos administradores terrenos não pesam os deveres morais que lhes competem, e que a mesma porcentagem pode ser adjudicada a quantos foram chamados à subordinação.


Vivem, quase todos, a confessar ausência do impulso vocacional, recebendo embora os proventos comuns aos cargos que ocupam.


Governos e empresas pagam a médicos que se entregam à exploração de interesses outros e a operários que matam o tempo. 


Onde, aí, a natureza de serviço?


Há técnicos de indústria econômica, que nunca prezaram integralmente a obrigação que lhes assiste e valem-se de leis magnânimas, à maneira de moscas venenosas no pão sagrado, exigindo abonos, facilidades e aposentadorias.


Creia, porém, que todos pagarão muito caro a displicência. 


Parece ainda distante o tempo em que os institutos sociais poderão determinar a qualidade de serviço dos homens, porque, para o plano espiritual superior, não se especificará teor de trabalho, sem a consideração dos valores morais despendidos.


Essas palavras despertavam-me para concepções novas.


Percebendo-me a sede de instrução, a interlocutora continuou:


- O verdadeiro ganho da criatura é de natureza espiritual e o bônus-hora, em nossa organização, modifica-se em valor substancial, segundo a natureza dos nossos serviços.


No Ministério da Regeneração, temos o Bônus-Hora-Regeneração; no Ministério do Esclarecimento, o Bônus-Hora-Esclarecimento, e assim por diante.


Ora, examinando o provento espiritual, é razoável que a documentação de trabalho revele a essência do serviço.


As aquisições fundamentais constituem-se de experiência, educação, enriquecimento de bênçãos divinas, extensão de possibilidades. 


Nesse prisma, os fatores assiduidade e dedicação representam, aqui, quase tudo.


Em geral, em nossa cidade de transição, a maioria prepara-se com vistas à necessidade de regresso aos círculos carnais.


Examinando esse princípio, é natural que o homem que empregou cinco mil horas, em serviços regeneradores, tenha efetuado esforço sublime, a benefício de si mesmo; o que despendeu seis mil horas de atividade, no Ministério do Esclarecimento, estará mais sábio.


Poderemos gastar os bônus-hora conquistados; entretanto, é mais valioso ainda o registro individual da contagem de tempo de serviço útil, que nos confere direito a preciosos títulos.


Semelhantes instruções interessavam-me profundamente.


- Poderemos, porém, gastar nossos bônus-hora a favor dos amigos? - indaguei curioso.


- Perfeitamente - disse ela -; poderemos repartir as bênçãos de nosso esforço com quem nos aprouver. 


Isto é direito inalienável do trabalhador fiel.


Contam-se por milhares as pessoas favorecidas em "Nosso Lar", pela movimentação da amizade e do estímulo fraternal.


A essa altura, a genitora de Lisias sorriu e observou:


- Quanto maior a contagem do nosso tempo de trabalho, maiores intercessões podemos fazer. 


Compreendemos, aqui, que nada existe sem preço e que para receber é indispensável dar alguma coisa.


Pedir, portanto, é ocorrência muito significativa na existência de cada um. Somente poderão rogar providências e dispensar obséquio os portadores de títulos adequados, entendeu?


- E o problema da herança? - inquiri de repente.


- Não temos aqui demasiadas complicações - respondeu a senhora Laura, sorrindo. 


Vejamos, por exemplo, o meu caso.



 A Sra Laura se despedindo  de André Luiz e dos familiares para nova reencarnação.




Aproxima-se o tempo do meu regresso aos planos da crosta.


Tenho comigo três mil Bônus-Hora-Auxílio, no meu quadro de economia pessoal. 


Não posso legá-los a minha filha que está a chegar, porque esses valores serão revertidos ao patrimônio comum, permanecendo minha família apenas com o direito de herança ao lar; no entanto, minha ficha de serviço autoriza-me a interceder por ela e preparar-lhe aqui trabalho e concurso amigo, assegurando-me, igualmente, o valioso auxílio das organizações de nossa colônia espiritual, durante minha permanência nos círculos carnais.


Nesse cômputo, deixo de referir-me ao lucro maravilhoso que adquiri no capítulo da experiência, nos anos de cooperação no Ministério do Auxílio. 



Volto à Terra, investida de valores mais altos e demonstrando qualidades mais nobres de preparação ao êxito desejado.


Ia prorromper em exclamações admirativas, referentes ao processo simples de ganhar, aproveitar, cooperar e servir, confrontando aquelas soluções com os princípios imperantes no planeta, mas um brando burburinho aproximou-se da casa. 


Antes que pudesse emitir qualquer observação, a senhora Laura murmurou, satisfeita:


- Nossos queridos estão de volta.


E levantou-se para atender.


FONTE:

Nosso Lar Pelo Espírito André Luiz psicografia de Francisco Cândido Xavier.



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