terça-feira, 17 de agosto de 2021

95-O VAU - Casimiro Cunha

 


95-O VAU

Casimiro Cunha


Por benfeitor venerável, no seio da natureza, rola o rio caudaloso escondendo a profundeza.


Enquanto busca reserva, guardando seu próprio leito, ninguém se arrisca à passagem sem cuidado e sem respeito.


O rio jamais se nega a ceder na travessia, mas todos se acercam dele com a máxima cortesia.


Socorrem-se os viajantes do auxílio de embarcação, e espera-se a ponte amiga como justa construção.


Mas, se um dia, por descuido, o rio apresenta o vau, ai dele! 


O destino agora é triste, amargoso e mau.


Ninguém lhe receia as águas noutro tempo respeitadas; invadem-nas cavaleiros, carros, toras e boiadas.


As correntes que eram puras, e amadas por justa fama, rolam sujas e insultadas de lodo, de lixo e de lama.


A ponte dorme em projeto e o rio, embora a beleza, depois que exibiu o vau, nunca mais teve defesa.


As nossas almas também são como o rio profundo...


A zona de intimidade precisa ocultar-se ao mundo.


O mal quer turvar-nos sempre.


Vigia, resiste e vence-o.


Se queres respeito e paz, não te esqueças do silêncio.

 

XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Casimiro Cunha. Cartilha da natureza. São Paulo/SP:Butterflay editora Ltda,2002, ed.1. Cap 95, p.96.

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