terça-feira, 24 de agosto de 2021

ALMAS SEM FÉ - Cornélio Pires

 


ALMAS SEM FÉ

Cornélio Pires


Em carta, você pergunta,

Meu caro Antônio Peri,

De que modo almas sem fé

Costumam viver aqui.


Diz você "almas sem fé."

E a sua definição

Faz com que a gente medite

Nos assuntos tais quais são.


A você posso afirmar

De quanto agora conheço:

Cada qual, depois da morte,

Procura o próprio endereço.


Quem se dedica a elevar-se

No campo do dia-a-dia,

Vive no Além pela fé

No trabalho a que servia.


Mas quem anda mundo afora,

sem ideal ou sem crença,

Na Terra ou fora da Terra,

Está naquilo que pensa.


Nesse caso, vale pouco

A morte por nova estrada,

A mente em desequilíbrio

Continua alucinada.


Quem viveu só para si

Segue essa linha incorreta

E é tanta gente no embrulho

Que eu mesmo fico pateta.


Você recorda o João Panca

No Roçado da Parede,

Desencarnado em preguiça

Vive atolado na rede.


Garimpeiro apaixonado,

Manoelino de Nhá Chica,

Sem corpo, mora na serra,

Caçando mina de mica.


Tanto pensava em comida

Que Altino de ista Bela,

No Além, traçou na cabeça

A forma de uma panela.


Bebedor como ninguém,

Nosso Anselmo Rosmaninho

Já morreu, há muito tempo,

E está no copo de vinho.


Sempre parada no ouro,

desencarnou Dona Rita,

Está sem corpo, há dez meses,

E a pobre não acredita.


Conquistador, morreu Nico,

Hoje, ao fazer-se presente,

Ele ataca de fantasma

E as moças correm na frente.


Tanto buscava adorar-se

Que Esmeraldina Botelho,

Depois de desencarnada,

Não larga a face do espelho.


Sem esforço em que progrida,

Tal qual por aqui se vê,

É muita gente que vive

Sem saber como e porquê...


A vida sem ideal

É trilha na contramão,

Dificuldade e perigo

Seguindo sem direção.


Use o carro de seu corpo,

Servindo e amando com fé.

Quem age e confia em Deus

Não precisa marcha à ré.


 XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Cornélio Pires, Baú de casos. São Paulo: Ideal, p.7-10


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