sábado, 11 de julho de 2020

Colo - Cezar Braga Said




Colo

Cezar Braga Said

Dorme agora
É só o vento lá fora
É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
(Legião Urbana)


Há momentos na vida em que tudo o que precisamos é de um colo.


Pode ser de amigo, avô ou avó, um irmão, pai ou mãe.


O que importa é que seja acolhedor que nos receba sem inquéritos, julgamentos e preconceitos.


Que esteja disponível e tenha espaço para recostarmos a cabeça e podermos chorar, sorrir ou tão somente silenciar.


Um colo assim é quase um útero gestando uma criança desejada e aguardada com muito amor.

*

A terra receptiva oferece colo para a chuva.


O mar embala o céu no reflexo das suas águas.


Um colo é sempre um abrigo nos dias de frio, tempestade ou calor intenso.


É uma proteção segura quando o medo se insinua e tenta nos dominar.


É fonte de água pura quando estamos sedentos e também pão saboroso, assado com carinho para aplacar a fome voraz.


É a sombra amiga e generosa da árvore frondosa protegendo-nos do sol escaldante.


Um colo funciona como um oásis no deserto, onde podemos nos revigorar para o prosseguimento da jornada.

*

Mas é preciso cuidado para não ficarmos dependentes dele a ponto de não termos coragem e autonomia para seguir, deixando-o para trás. 


Neste caso, o colo vira uma prisão e perde sua finalidade de amparo, suporte provisório.


Tão importante quanto receber colo é oferecer um a quem necessita. 


É abrir os braços e o coração e receber, apoiar, amar.


Um colo verdadeiro e genuíno quando é oferecido, é uma das mais lindas e delicadas expressões do amor. Amor que se renova e engrandece quanto mais se oferece e se partilha.

*

Mas ajude as pessoas a caminharem com as próprias pernas, pensarem com a própria cabeça, sentirem com o próprio coração, assumindo, portanto, o protagonismo de suas próprias vidas.

*
Ofereça colo!


Receba colo!


Seja também seu próprio colo!



Cezar Braga Said


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