domingo, 19 de agosto de 2012

Os irmãos do arco-íris - Chico de Francisco



Os irmãos do arco-íris   

 Chico de Francisco


Com a desencarnação de sua mãe, Dona Maria João de Deus, Chico e os demais irmãos foram entregues a várias pessoas, pois o pai, Sr. João Cândido Xavier, não tinha condições de criá-los. Coube ao Chico morar com urna senhora um pouco geniosa, que o submeteu a requintadas malvadezas. Basta dizer que ela lhe dava três surras de varas de marmelo por dia, espetava-lhe garfos na barriga e, certa vez, obrigou-o a lamber uma ferida na perna de um menino três sextas-feiras seguidas.


Numa dessas vezes em que, com cinco anos, deveria lamber a ferida, o Chico refugiou-se no quintal em prantos.


Foi quando sua mãe, já desencarnada, apareceu e lhe disse:


"Tenha paciência, meu filho. Se você sofrer com paciência, Jesus vai mandar um anjo para tomar conta de vocês."


Assim realmente aconteceu.


O sr. João Cândido Xavier, pai de Chico, sentindo a necessidade de um segundo casamento, decidiu procurar alguém a quem pudesse se unir.


Foi então que apareceu Dona Cidália. A única condição que impôs para se casar foi que se reunisse todos os filhos dispersos para que ela os criasse.


Chico foi o último a chegar, vestido num camisolão comprido. Logo que se aproximou, Dona Cidália percebeu que o ventre dele estava inchado. Tentou levantar a camisola, mas ele pediu que não. Havia outras senhoras na sala, coisa que o envergonhava.


Dona Cidália o pegou pela mão e foi andando, passos lentos para que o menino pudesse segui-la sem esforço; muito diferente da outra senhora, que sempre o deixava para trás: Chico percebeu num relance que esta senhora era uma pessoa em que poderia confiar e que talvez fosse o anjo prometido por sua mãe em nome de Jesus.


E realmente era.


Quando Dona Cidália levantou a camisola do Chico, ficou assustada com o sofrimento imposto àquele menino de apenas cinco anos. Represou sua indignação numa promessa cheia de bondade, que cumpriu à moda infalível dos anjos:


- Olhe meu filho, enquanto eu viver ninguém mais vai por a mão em você.


Todas as tardes quando o Chico voltava do trabalho ia conversar com sua segunda mãe, sempre lavando roupa no fundo do quintal.


Nessas horas, ocorria um fato curioso. O Chico via espíritos com roupas muito coloridas. Ora mais acima, ora abaixo. Não sabia quem eram, mas sentia que gostava muito deles.


Certo dia, perguntou a Dona Cidália:


- Mãe, quem serão essas pessoas que me aparecem cheias de colorido e acenam-me com bondade?


- Ah! Meu filho, eu sou muito ignorante, mas acredito em você. Eu não entendo, mas compreendo. Vou lhe pedir uma coisa, não comente este fato com seu pai, porque ele vai pensar que você não está bem da cabeça.


Certo dia, o Chico anunciou a Dona Cidália:


- Mãe, acho que já sei quem são essas pessoas que me aparecem. Penso que moram no Arco-Íris, pois me aparecem com roupas de cor azul, rosa, verde, amarelo.


Dona Cidália achou muita graça.


O tempo foi passando e as visões do pessoal do Arco-Íris foram diminuindo. 


Com dezessete anos, o médium começa a florescer, surge a primeira mensagem e os trabalhos espirituais foram crescendo sempre.


Quando o Chico completou vinte e um anos, Dona Cidália estava às portas da desencarnação e quis fazer-lhe as últimas recomendações.


Depois de algum tempo de conversa, recomendou-lhe:


- Olha, meu filho, eu vou partir e tenho medo que seu pai dê nossos filhos novamente a pessoas estranhas que os maltratem.


Nessa altura da narrativa a voz do Chico fica entrecortada pela emoção.


- Ah! Minha mãe, fica despreocupada. Eu lhe prometo que, enquanto minha última irmã não estiver casada, minha missão no lar não terá acabado.


Realmente, enquanto sua última irmã não se casou, não saiu do lar para dedicar-se inteiramente à Doutrina Espírita.


Em meio à dor de perder alguém que foi para ele um anjo de bondade aqui na Terra, fez uma última súplica:


- Mãe, não vá embora não. Se a senhora partir, com quem vou conversar sobre as minhas visões? Quem vai acreditar em mim como a senhora acredita?


Dona Cidália, num último esforço, ainda o consola:


- Meu filho, você se lembra daquelas pessoas do Arco-Íris? Tenho fé que você ainda há de encontrá-las e elas vão compreende-lo como eu não pude.


O Chico afirmava, na serena convicção dos que frequentam o essencial das coisas, que mais tarde, ele realmente encontrou os irmãos do Arco-Íris encarnados nas pessoas de seus melhores amigos.



Fonte:


SILVEIRA, Adelino . Chico de Francisco. São Paulo: Cultura Espírita União, 1987, p.

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