domingo, 19 de agosto de 2012

Solidão aparente - Ramiro Gama




Solidão aparente    

Ramiro Gama

         

Em meados de 1932, o “Centro Espírita Luiz Gonzaga” estava reduzido a um quadro de cinco pessoas, José Hermínio Perácio, D. Carmen Pena Perácio, José Xavier, D. Geni Pena Xavier e o Chico.


Os doentes e obsidiados surgiram sempre, mas, logo depois das primeiras melhoras, desapareciam como por encanto.


Perácio e senhora, contudo, precisavam transferir-se para Belo Horizonte por impositivosda vida familiar.


O grupo ficou limitado a três companheiros.


D. Geni, porém, a esposa de José Xavier, adoeceu e a casa passou a contar apenas com os dois irmãos. José, no entanto, era seleiro e, naquela ocasião, foi procurado por um credor que lhe vendia couros, credor esse que insistia em receber-lhe os serviços noturnos, numa oficina de arreios, em forma de pagamento.


Por isso, apesar de sua boa vontade, necessitava interromper a freqüência ao grupo, pelo menos, por alguns meses.


Vendo-se sozinho, o Médium também quis ausentar-se. Mas, na primeira noite, em que se achou a sós no Centro, sem saber como agir, Emmanuel apareceu-lhe e disse:


– Você não pode afastar-se. Prossigamos em serviço.


– Continuar como? Não temos frequentadores...


– E nós? – disse o Espírito amigo. – Nós também precisamos ouvir o Evangelho para reduzir nossos erros.


E, além de nós, temos aqui numerosos desencarnados que precisam de esclarecimento e consolo.


Abra a reunião na hora regulamentar, estudemos juntos a lição do Senhor, e não encerre a sessão antes de duas horas de trabalho.


Foi assim que, por muitos meses, de 1932 a 1934, o Chico abria o pequeno salão do Centro e fazia a prece de abertura, às oito da noite em ponto.


Em seguida, abria “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, ao acaso e lia essa ou aquela instrução, comentando-a em voz alta. Por essa ocasião, a vidência nele alcançou maior lucidez.


Via e ouvia dezenas de almas desencarnadas e sofredoras que iam até o grupo, à procura de paz e refazimento.


Escutava-lhes as perguntas e dava-lhes respostas sob a inspiração direta de Emmanuel.


Para os outros, no entanto, orava, conversava e gesticulava sozinho...


E essas reuniões de um Médium a sós com os desencarnados, no Centro, de portas iluminadas e abertas, se repetiam todas as noites de segundas e sextas-feiras



Fonte:
GAMA, Ramiro. Lindos Casos de Chico Xavier.

Nenhum comentário: