domingo, 19 de agosto de 2012

Valéria – Chico de Francisco




Valéria 

Chico de Francisco       



Chico, você já chorou?


- Sim, meu filho, muito. Vou-lhe contar uma história em que muito, chorei. Durante anos, visitamos uma amiga que havia se tornado paralítica e muda, levando em cada visita um pacote de biscoitos, um pedaço de bolo ou um doce qualquer. Quando já havíamos completado seis anos de visitas, lhe disse:


- Valéria, hoje estou com a impressão de que você pode falar. Fale, Valéria. Diga pelo menos "Jesus".


Ela olhou-me demoradamente. Os olhos, límpidos como um céu sem nuvem. Fez um esforço muito grande, mas não conseguiu falar.


Após a prece, voltei a insistir:


- Valéria, Jesus andou no mundo, curou tanta gente, tantos iam buscá-Lo nas estradas, ou na casa onde Ele permanecia e pediam-lhe a graça da melhora ou da cura e foram curados. Imagine-se caminhando ao encontro de Jesus, embora você não ande há tantos anos. Imagine-se olhando-O e dizendo "Jesus". Fale "Jesus", Valéria. Ela fez novamente um grande esforço, olhou-me demoradamente. Por fim, conseguiu dizer.


- "JESUSO"


Fiquei muito emocionado e as lágrimas me vieram aos olhos. Pedi a alguém que chamasse sua irmã:


- Valéria, minha filha, fale para sua irmã. Há muitos anos que ela não ouve o som de sua voz. Fale outra vez "Jesus".


Ela nos olhou demoradamente. Fez novamente um esforço enorme e repetiu:


"JESUSO".


Quando nos retiramos, estivamos todos contentes e achávamos que, com o tempo, Valéria iria conseguir pronunciar algumas palavras.


Na semana seguinte, porém, ela desencarnou.


Alguns anos mais tarde, começou a aparecer-me uma entidade na forma de uma senhora muito bonita. Quando chegava, todo o meu quarto ficava iluminado. Procedia então à transmissão do passe na regido do tórax, mais propriamente sobre o coração. E assim procedeu por um mês, aproximadamente.


Foi nessa época que tive o primeiro enfarte.


Mais tarde, recuperado, graças à Misericórdia Divina, no período em que fiquei vinte dias mais ou menos imóvel, a entidade apareceu-me novamente. Então lhe disse:


- Ah! minha irmã, agora compreendo porque você me dava passes no coração. Estava fortalecendo-me para resistir ao enfarte que viria, não é mesmo?


Acenou-me afirmativamente com a cabeça.


- Olhe, quero que me dê seu nome para eu orar por você. Estou-lhe muito grato pela carinhosa assistência.


- Chico, somos tão amigos que não vou lhe dar meu nome. Vou dizer uma palavra e você vai se lembrar de mim.


- Será, minha irmã?


- Tenho certeza, Chico.


- Então diz.


- "JESUSO".


- Ah! Valéria, era você então... Como você está bonita... Eu não mereço a sua visita...


- Sim, eu mesma. Vim lembrar os nossos sábados em que orávamos tanto. Lembro-me com emoção da última palavra que pronunciei e vim trazer-lhe confiança em Jesus. O nome de Jesus tem muita força, Chico.


- Então, ela colocou a mão sobre o meu peito e a dor desapareceu.





Fonte:


SILVEIRA, Adelino . Chico de Francisco. São Paulo: Cultura Espírita União, 1987, p.71.

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