quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

DESPEDIDA DE VITAL - Cornélio Pires



DESPEDIDA DE VITAL

Cornélio Pires


Lua cheia... Na choça a que se apega,

Morre Vital, velhinho, olhando o morro...

Por prece, escuta a arenga do cachorro,

Ganindo nas touceiras da macega.


Pobre amigo!... Agoniza sem socorro,

Chora lembrando o milho na moega...

Oitenta anos de lágrimas carrega

Na carcaça jogada ao chão sem forro.


Suando, enxerga um moço na soleira,

- “Eu sou leproso...” – avisa em voz rasteira,

mas diz o moço, envolto em luz dourada:


- “Vital, eu sou Jesus! Venha comigo!...”.

E o velho sai das chagas de mendigo

Para um carro de estrelas da alvorada.


XAVIER, Francisco Cândido. Antologia Mediúnica do Natal.

 


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