quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

ENCONTRO DIVINO - Rodrigues Abreu

 


ENCONTRO DIVINO


Rodrigues Abreu


Na bênção do Natal,

quando o aprendiz desditoso

contemplou toda a luz

que o Mestre lhe trazia

a Terra transformou-se

aos seus olhos em pranto.


Renovado a feliz

reconheceu que a lama

era adubo sublime;

Notou em cada espinho

uma vara de flores

e descobriu que a dor,

em toda parte, é dádiva celeste.


Assombrado,

viu-se, enfim, tal qual era,

um filho de Deus-Pai

ligado em si à Humanidade inteira.


Descortinou mil sendas para o bem

no chão duro que lhe queimava os pés.

Encontrou primaveras

sobre o frio hibernal

e antegozou colheitas multiformes

na sementeira frágil e enfermiça.


Deslumbrado,

sentiu, nas flores, estrelas mudas,

nas fontes, bênçãos do céu exilados no solo,

e nas vozes humildes da natureza

o cântico da vida

a Bondade Imortal.


Abrira-se-lhe nalma o Grande Entendimento...

Não conseguiu articular palavra

à frente do mistério.


Somente o pranto

de alegria profunda

orvalhou-lhe o semblante em êxtase divino.


E, desde então,

passou a servir sem cessar,

dentro de indevassável silêncio,

qual se o Mestre e ele se bastassem um ao outro,

morando juntos para sempre,

à maneira de duas almas

vivendo num só corpo

ou de dois astros

a brilharem unidos,

em pulsações de luz,

no Coração o Amor.


 

XAVIER, Francisco Cândido. Antologia Mediúnica do Natal.


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