sábado, 9 de agosto de 2025

A Festa - Hilário Silva

 


A Festa

Hilário Silva

 

Cap. IX – Item 7


Era homem de meia-idade.


Chamava-se Frederico Manuel de Ávila.


Comerciante progressista. 


Espírita há dois lustros, buscava pautar a existência pelo Evangelho renovador.


Contudo, era sempre afobado.


Raro se detinha para examinar um problema maior.


Impaciente. 


Precipitado. 


Febricitante.


Várias vezes fora admoestado para reduzir a marcha da própria vida.


Amigos aconselharam. 


Espíritos advertiram.


Tudo inútil.


Certo dia, demorando-se mais no escritório, voltou ao lar, quase noitinha, acelerado como de hábito.


De posse da chave, abriu a porta e entrou.


Percorria o corredor para chegar a uma das salas, quando nota um vulto caminhando para ele, a toda pressa, na penumbra...


Surpreendido e amedrontado, ante a figura estranha, julgou-se à frente de algum amigo do alheio e volveu sobre os próprios passos, em corrida aberta.


Na fuga, porém, tropeça num canteiro do jardim e cai, gritando, estentórico.


Os gritos atraem vizinhos, pressurosos, que o encontram desmaiado.


É conduzido ao hospital próximo.


Frederico fraturara uma perna...


Mais tarde, volta a casa com a perna engessada.


Na intimidade da família, foi compelido a lembrar-se de que aniversariava naquele dia... 


E tudo ficou esclarecido.


Como se demorasse em serviço, os parentes quiseram surpreendê-lo no trabalho, verificando-se o desencontro.


A esposa e os filhos, para recepcioná-lo alegremente, em festa íntima, alteraram as disposições dos móveis do interior da casa.


E só então pôde compreender que o vulto, que o assustara, era ele mesmo refletido no grande espelho da parede da sala de jantar que fora mudado de posição...


XAVIER, Francisco Cândido; Waldo Vieira Por Espíritos Diversos. Espírito da verdade, cap 80. Fuga do próprio vulto: Ilustração Reproduzida da Internet. 

 

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