domingo, 10 de agosto de 2025

História De Um Pão - Irmão X

 


História De Um Pão

 Irmão X

Cap. XIII – Item 15


Quando Barsabás, o tirano, demandou o reino da morte, buscou debalde reintegrar-se no grande palácio que lhe servira de residência.


A viúva, alegando infinita mágoa, desfizera-se da moradia, vendendo-lhe os adornos.


Viu ele, então, baixelas e candelabros, telas e jarrões, tapetes e perfumes, joias e relíquias, sob o martelo do leiloeiro, enquanto os filhos querelavam no tribunal, disputando a melhor parte da herança.


Ninguém lhe lembrava o nome, desde que não fosse para reclamar o ouro e a prata que doara a mordomos distintos.


E porque na memória de semelhantes amigos ele não passava, agora, de sombra, tentou o interesse afetivo de companheiros outros da infância...


Todavia, entre eles encontrou simplesmente a recordação dos próprios atos de malquerença e de usura.


Barsabás entregou-se às lágrimas de tal modo, que a sombra lhe embargou, por fim, a visão, arrojando-o nas trevas.


Vagueou por muito tempo no nevoeiro, entre vozes acusadoras, até que um dia aprendeu a pedir na oração, e como se a rogativa lhe servisse de bússola, embora caminhasse às escuras, eis que, de súbito, se lhe extingue a cegueira e ele vê, diante de seus passos, um santuário sublime, faiscante de luzes.


Milhões de estrelas e pétalas fulgurantes povoavam-no em todas as direções.


Barsabás, sem perceber, alcançara a Casa das Preces de Louvor, nas faixas inferiores do firmamento.


Não obstante deslumbrado, chorou, impulsivo, ante o Ministro espiritual que velava no pórtico.


Após ouvi-lo, generoso, o funcionário angélico falou sereno:


– Barsabás, cada fragmento luminoso que contemplas é uma prece de gratidão que subiu da Terra...


– Ai de mim – soluçou o desventurado – eu jamais fiz o bem...


– Em verdade – prosseguiu o informante –, trazes contigo, em grandes sinais, a pranto e o sangue dos doentes e das viúvas, dos velhinhos e órfãos indefesos que despojaste, nos teus dias de invigilância e de crueldade; 


entretanto, tens aqui, em teu crédito, uma oração de louvor...


E apontou-lhe acanhada estrela, que brilhava à feição de pequenino disco solar.


– Há trinta e dois anos – disse, ainda, o instrutor –, deste um pão a uma criança e essa criança te agradeceu, em prece ao Senhor da Vida.


Chorando de alegria e consultando velhas lembranças, Barsabás perguntou:


– Jonakim, o enjeitado?


– Sim, ele mesmo – confirmou o missionário divino –. 


Segue a claridade do pão que deste, um dia, por amor, e livrar-te-ás, em definitivo, do sofrimento nas trevas.


E Barsabás acompanhou o tênue raio do tênue fulgor que se desprendia daquela gota estelar, mas, em vez de elevar-se às alturas, encontrou-se numa carpintaria humilde da própria Terra.


Um homem calejado aí refletia, manobrando a enxó em pesado lenho...


Era Jonakim, aos quarenta de idade.


Como se estivessem os dois identificados no doce fio de luz, Barsabás abraçou-se a ele, qual viajante abatido, de volta ao calor do lar.


*

Decorrido um ano, Jonakim, o carpinteiro, ostentava, sorridente, nos braços, mais um filhinho, cujos louros cabelos emolduravam belos olhos azuis.


Com a benção de um pão dado a um menino triste, por espírito de amor puro, conquistara Barsabás, nas Leis Eternas, o prêmio de renascer para redimir-se.


XAVIER, Francisco Cândido; Waldo Vieira Por Espíritos Diversos. Espírito da verdade, cap 81 . Oferecendo um pão:  Ilustração Reproduzida da Internet. 

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