terça-feira, 26 de março de 2024

A Aranha - Casimiro Cunha

 

 


A Aranha 

Casimiro Cunha

 

Geralmente, em toda parte, no ângulo mais sombrio dos recantos desprezados, vem a aranha e tece o fio.


Escura, silenciosa, atendendo ao próprio instinto, seja dia, seja noite, vai fazendo o labirinto.


Por manter o enorme enredo, insiste e nunca esmorece, condenar-se por si mesma é seu único interesse.


Desdobrando movimentos nos impulsos insensatos, pratica perseguições, multiplica assassinatos.


Insetos despreocupados, na ilusão cariciosa, transformam-se em prisioneiros da pequena criminosa.


Satisfeita, a aranha escura.


Prossegue na horrenda lida, nos venenos que segrega traz a morte e suga a vida.


Mas um dia, o espanador, na luta material, vem e arranca essa infeliz das teias de horror do mal.


A aranha, porém, não cede, com teimosia e com arte, foge ao bem que se lhe fez, e vai tecer noutra parte.


Quem medita na conduta dessa aranha renitente, encontra a cópia fiel da vida de muita gente.


A muitos presos do engano, Deus envia a dor e as provas; Mas, depois de liberdade, Vão prender-se em redes novas.

 

XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Casimiro Cunha.Cartilha da naturezaSão Paulo/SP:Butterflay Ltda,2002, ed.1. Cap 2, p.3.

 

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