sexta-feira, 8 de outubro de 2021

3. CONTRA-SENSO - Valérium




 

3. CONTRA-SENSO


Valérium


Alguém bate à porta principesca.


Ela, a dona da casa, atende.


Abre a porta e encontra pobre velhinho à frente.


Andrajoso. Cansado. Feridento.


É um pedinte que roga auxilio.


Fria e insensívelmenlte, ela despede o visitante, dizendo nada ter que possa dar.


E volta. resmungando à intimidade doméstica, maldizendo o infeliz.


— É malandro! — declara.


E acrescenta:


— Para vadios, só a cadeia.


Nisso, pequeno rato desliza-lhe pelos pés.


Assustadíssima, clama por socorro. Chora.


Fecha-se, superexcitada, em quarto próximo, a lastimar-se.


Bate-lhe o coração fortemente, as mãos tremem, a face está lívida e, por fim, depois de um copo d’água, procura o festejado gato de estimação para exterminar o camundongo.


*

Assim são muitas de nossas comoções.


Não vibramos ante os quadros dolorosos que pedem ajuda e agitamo-nos, agoniados, diante de incidentes banais.


*

Amigo, controle a sensibilidade, vigiando reações e policiando as ideias, para que o rendimento maior dos seus dias, à luz do Evangelho Vivo, seja realidade em seu caminho.


Recorde que muita gente na Terra enfeita gatinhos prediletos e se enoja diante de irmãos em luta.


E há milhares de almas outras que exibem clamorosa frieza ante os apelos do bem e mostram imensa emoção à frente de um rato.

 

VIEIRA, Waldo pelo Espírito Valérium. Bem aventurados os simples. Rio de Janeiro: FEB,10ª ed., 1962, cap. 3.

 

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