domingo, 10 de outubro de 2021

5. GAIOLA - Valérium

 


5. GAIOLA

Valérium


Na sala faustosa, o pássaro triste e cabisbaixo está na gaiola enfeitada.


O visitante entra, observa e pergunta ao dono da mansão:


— Que tem o canário? Solte-o, meu amigo, ele está muito tristonho!


E o anfitrião responde, abrindo a porta do pequeno cárcere:


— Veja, ele não sai... É canário de gaiola.


Aí foi criado desde que nasceu. Não sabe viver fora dela...


E fecha a portinhola da prisão do pássaro triste que, mudo e quieto, respira chumbado à gaiola enfeitada, na sala faustosa...


*

Quantas criaturas humanas existem iguais a esse pássaro?!


Pessoas criadas desde a infância na riqueza e no luxo vivem presas aos empréstimos transitórios do mundo, durante toda a existência na Terra, e, mesmo depois da morte, não se desvencilham de seus antigos pertences e propriedades.


Por mais se lhes abram as portas da liberdade espiritual, não se sentem com força suficiente para desferirem o voo largo da independência, na amplidão das Esferas Superiores...


E ficam chumbados à carne passageira, em suas gaiolas mentais de ouro, por muito tempo, muito tempo mesmo, ante o Grande Futuro.

*

Saiba assim, meu irmão, usar os empréstimos da vida, desapegando-se realmente do conforto escravizante, na certeza de que você chegou sozinho à estação do corpo e que sozinho há de sair dela.


VIEIRA, Waldo pelo Espírito Valérium. Bem aventurados os simples. Rio de Janeiro: FEB,10ª ed., 1962, cap. 5.


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